Já existe vacina contra o câncer?
Última atualização em 12 de julho de 2024
Apesar de já existirem imunizantes que combatem a doença, eles ainda estão em estudo e são avaliados para tipos de tumores específicos
Quando o assunto é entender se existe vacina contra o câncer, é preciso ter em mente que há os imunizantes que previnem o desenvolvimento da doença, como é o caso da vacina do HPV, e vacinas que combatem o câncer. Para este último grupo, há diversos estudos científicos avaliando como as injeções podem ajudar no tratamento oncológico e, inclusive, há pesquisas em fase avançada demonstrando a eficácia de vacinas para melanoma e glioblastoma.
“Quando falamos em vacina contra o câncer, existem diferentes cenários. Existem aquelas vacinas que têm por objetivo prevenir o câncer, de forma semelhante ao que temos nas vacinas contra alguns agentes infecciosos, como é o caso da vacina da gripe. Existem as vacinas para reduzir a chance de um câncer voltar e há aquelas vacinas para tratamento de fato da doença avançada”, o Dr. Rodrigo Munhoz, médico do Centro de Oncologia e coordenador da Especialização em Dermatologia Oncológica do Hospital Sírio-Libanês, explica.
Apesar de cada uma dessas vacinas funcionar de formas específicas, todas partem do mesmo princípio, que é sensibilizar o sistema de defesa do corpo, fazer com que ele consiga reconhecer o câncer e possa montar uma resposta imunológica contra ele.
Quais vacinas previnem o câncer?
Atualmente, as principais são a vacina do HPV, que previne contra os cânceres do colo do útero, canal anal, cabeça e pescoço, e a vacina de hepatite B, que previne contra o câncer de fígado.
O Dr. Munhoz descreve que ambos os imunizantes têm o mesmo mecanismo de ação, ou seja, funcionam evitando o desenvolvimento e a proliferação daquele tipo de vírus. No caso do HPV, a vacina evita a manifestação do Papilomavírus Humano, e na hepatite B, evita o vírus causador dessa doença.
“Se você trata a infecção crônica causada por esses vírus, que são oncovírus, isto é, vírus capazes de gerar um câncer, você, indiretamente, acaba diminuindo a formação de um câncer, mas a vacina não atua diretamente na doençar”, ele esclarece.
É importante saber que a vacina do HPV é oferecida no SUS para crianças de 9 a 14 anos e para pessoas de qualque idade que sejam imunossuprimidas, pacientes oncológicos, vítimas de violência sexual e portadores de papilomatose respiratória recorrente (PPR).
A vacina oferecida no sistema público é a quadrivalente, que protege contra quatro tipos de vírus, mas, no sistema privado, há disponível a nonavalente, que protege contra nove tipos de vírus e pode ser tomada por pessoas de 9 a 45 anos.
Já a vacina contra a hepatite B está disponível no SUS para pessoas de todas as idades que ainda não se imunizaram contra a doença.
A cura do câncer já existe?
Esta descoberta é o sonho não só de muitos pacientes, mas também dos cientistas e da população em geral Foram…
A cura do câncer já existe?
Esta descoberta é o sonho não só de muitos pacientes, mas também dos cientistas e da população em geral Foram…
Vacina contra o câncer
As vacinas que atuam no tratamento em si são feitas com RNA mensageiro recombinante ou células dendríticas. Por enquanto, elas são usadas para os cânceres de pele e próstata, dentre outros.
No caso da vacina contra o câncer de próstata, o Dr. Munhoz conta que um imunizante feito a partir de células dendríticas (células de defesa) foi aprovado entre 2010 e 2011. Ele pode ser usado para alguns pacientes com doença metastática a fim de tratar, de fato, o câncer.
Já as de RNA mensageiro recombinante (o mesmo mecanismo de ação usado em algumas vacinas contra Covid-19), ganharam grande popularidade recentemente, porque estão sendo estudadas e testadas em países europeus. Até agora, 30 hospitais se registraram na Plataforma de Lançamento de Vacinas contra o Câncer, que se destina a fazer a ponte entre os pacientes e os próximos testes.
Os estudos estão avaliando vacinas para o tratamento do câncer de pele melanoma e não melanoma, glioblastoma e câncer de cólon.
É muito importante entender que essas vacinas são altamente específicas e, por isso, precisam ser personalizadas para cada paciente e cada doença. O especialista explica que para que uma vacina dessas seja produzida, o primeiro passo é remover cirurgicamente o tumor do paciente. Em seguida, o material é processado em laboratório e passa pela avaliação de um algoritmo, que identifica se há e quais são as proteínas do câncer que podem ser usadas para sensibilizar o sistema de defesa.
Depois de pronta, a vacina é administrada em conjunto com a imunoterapia.
“As vacinas para os tumores de pele, melanoma e não melanoma já estão em etapa avançada de estudo clínico, em estudos de fase III, e os resultados preliminares são muito animadores. A vacina para o glioblastoma segue o mesmo raciocínio, mas ainda com um sucesso um pouco menor”, o Dr. Munhoz pontua.
Por que as vacinas ainda não são usadas para outros tipos de câncer?
O médico explica que há duas barreiras para a criação desses imunizantes. A primeira está relacionada, justamente, à questão de ser uma terapia muito personalizada e a segunda está ligada à sustentação da resposta imunológica.
Isso acontece porque, para muitos casos, não é possível encontrar uma proteína no tumor que possa ser usada para sensibilizar, de forma adequada, o sistema imunológico. E, mesmo encontrando, nem sempre o organismo consegue manter a resposta.
“O tumor é o produto de uma célula normal que sofreu o processo de transformação, não é como um vírus ou uma bactéria que é um agente externo. Isso traz uma dificuldade para criar uma vacina que nos permita ativar, de forma robusta e eficaz, o sistema de defesa e a partir daí montar uma resposta que se traduza em memória sustentada”, o Dr. Munhoz informa.
Por outro lado, o fato dos cientistas já terem identificado a possibilidade de criar vacinas seguindo esse processo, facilita replicá-lo para outros tumores sólidos.
Efeitos colaterais das vacinas contra o câncer
Até o momento, o médico descreve que foi identificado o risco de reações imunes amplificadas, que acontecem quando o sistema imune passa a atacar tecidos e órgãos sadios.
“Você apresenta um alvo para o sistema imune por meio da vacina e ele monta uma resposta. Com isso, a defesa do corpo vai se voltar contra aquele alvo, mas aquele alvo não está só no tumor, está no tecido sadio e isso pode causar um efeito colateral”, ele detalha.
Apesar disso, os estudos têm demonstrado que não há um aumento na toxicidade.
“O objetivo desses estudos é também caracterizar a segurança, então existem efeitos colaterais que, ao longo dos anos, ainda vamos precisar entender. Os estudos de fase III, que incluem muitos mais pacientes, vão nos dar alguns indícios quanto ao perfil de segurança da vacina”, o Dr. Rodrigo Munhoz finaliza.