Por que não comer alimentos crus durante o câncer?
Última atualização em 28 de julho de 2021
Eles podem aumentar as chances de infecções e até levar à morte. Porém, nem todos os alimentos crus estão proibidos
O grande perigo desse tipo de alimento são as bactérias presentes e que podem representar uma ameaça para os pacientes oncológicos.
Erika Yuri Hirose Murahara, membro do Comitê de Nutrição da Abrale e nutricionista no hospital Sírio Libanês, conta que isso acontece porque um dos principais efeitos colaterais da quimioterapia é a neutropenia. Essa é uma condição na qual ocorre uma queda na quantidade de glóbulos brancos, especialmente os neutrófilos, que estão relacionados à defesa do organismo contra as bactérias. Como consequência dessa queda está a maior probabilidade do paciente contrair uma infecção grave.
“Durante a neutropenia, apesar da maioria das infecções resultar da própria microbiota do paciente, diversos estudos reportaram isolar organismos como Pseudomona Aeruginosa, Escherichia coli, Klebsiella sp e Proteus sp de variedade de frutas, vegetais e carnes cruas”, comenta a nutricionista.
Como forma de evitar possíveis contaminações, foi considerado que a dieta neutropênica era a mais adequada para os pacientes. Nela, só estaria permitida a ingestão de alimentos cozidos e esterilizados.
“Entretanto, atualmente, não existem evidências científicas para apoiar o uso dessa dieta”, Erika afirma.
Alimentos crus para pacientes oncológicos
De acordo com a especialista, caso as pessoas desse grupo consumam alimentos crus que estejam contaminados, elas podem adquirir doenças transmitidas por alimentos (DTA). No Brasil, a Salmonella é o principal agente etiológico. Em seguida, estão a Escherichia coli e o Staphylococcus aureus, responsáveis pela colibacilose e intoxicação estafilocócica.
Os sintomas de doenças transmitidas por alimentos contaminados são: dores abdominais, diarreia, febre, calafrios, náusea e vômito.
“As DTA são importante causa de interrupção do tratamento, morbidade, como hepatite, falência renal e meningite, e mortalidade”, alerta Erika.
Quais cuidados devemos ter com os alimentos ingeridos crus?
No caso das frutas, verduras e legumes, é preciso seguir as diretrizes de manuseio seguro de alimentos recomendadas pela FDA (Food and Drug Administration) e a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Deve-se lavar o alimento em água corrente um a um, em seguida, deixá-lo de molho por dez minutos. Essa solução precisa conter uma colher de sopa rasa de hipoclorito de sódio para cada litro de água potável. Por último vem o enxágue em água filtrada e corrente.
“O consumo dessas comidas cruas é sempre recomendado, independente da etapa do tratamento. Entretanto, desde que as condições higiênico sanitárias do alimento sejam asseguradas”, ressalta a nutricionista.
Assim, é preciso estar atento às condições do alimento. Ou seja, ele deve estar íntegro, sua textura, cor e odor devem estar preservadas e sem possuir manchas ou riscos. Erika dá a dica de também se informar sobre o processo natural de amadurecimento de cada fruta. Caso esteja muito diferente, evitar o seu consumo.
Por outro lado, no caso da carne crua ou mal passada e ovos com gema amolecida, a autorização depende de cada paciente. Além também do tipo de tumor, fase do tratamento, grau de orientação do paciente e condições de reproduzir os cuidados de segurança dos alimentos.
“A solução para evitar a contaminação via frutas, verduras e legumes crus está na higienização. Enquanto que, para carnes e outros produtos de origem animal, está no cozimento”, explica Erika.
Ela ainda complementa falando que a carne mal passada entra em contato com o fogo por um período bastante curto. Isso pode ser perigoso, pois é durante a etapa de cocção que é possível eliminar as bactérias e evitar o risco de contaminação. O ponto certo é quando a carne está clara e não avermelhada.
Comida japonesa e câncer
Para o consumo da comida japonesa durante a quimioterapia, as orientações são as mesmas. Os sashimis, peixes e frutos do mar crus não devem ser ingeridos.
“A oscilação de temperatura durante o armazenamento desses alimentos aumenta ainda mais o risco de DTA”, a especialista salienta.
Alimentos crus durante a quimioterapia
As frutas, verduras e legumes crus são restritos somente se o paciente obtiver os alimentos de locais com condições higiênico-sanitárias duvidosas.
“A restrição aos demais alimentos crus, geralmente, é prescrita aos pacientes em quimioterapia, onco-hematológicos, a depender do diagnóstico e tratamento, ou àqueles submetidos ao transplante de medula óssea, pelo risco de imunossupressão relacionado ao tratamento citotóxico e/ou à doença de base”, finaliza Erika Yuri Hirose Murahara.
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