Câncer pode ser hereditário, mas não contagioso
Última atualização em 29 de julho de 2021
Tentar descobrir o porquê um câncer se desenvolve é uma grande preocupação. Por isso, questões como se ele é hereditário e/ou transmissível aparecem.
O que é uma doença hereditária?
O Dr. João Bosco de Oliveira Filho, Imunologista e Diretor Técnico e Executivo da Genomika Einstein, explica que “uma doença hereditária é uma condição genética que pode ser transmitida para a próxima geração. Ou seja, pode ser transmitida de pais para filhos”.
Esse tipo de doença acontece devido uma alteração no DNA da célula, que pode ser herdada pelos filhos daquela pessoa.
O câncer é hereditário?
Na maior parte dos casos, não. Normalmente, os cânceres se desenvolvem de forma espontânea e aleatória. Isto é, “sem a pessoa trazer de berço o defeito genético que a deixe mais suscetível a ter um câncer em comparação com a população geral”, diz o Dr. Oliveira.
Ou seja, o câncer é considerado hereditário quando essa suscetibilidade, ou predisposição, é transmitida para os descendentes de uma pessoa. Dessa forma, eles terão uma chance maior que a população geral de ter o mesmo tipo, ou um tipo semelhante, de câncer.
A probabilidade de uma pessoa desenvolver um câncer hereditário varia de acordo com o tipo de tumor. Por exemplo, de acordo com o Dr. João, 10% dos cânceres de mama, 5% dos casos de câncer de ovário e 10% dos cânceres de intestino se desenvolvem devido à hereditariedade. Isso mostra que uma pequena quantidade da população desenvolveu um câncer porque tem histórico familiar.
Apesar de ser uma pequena parcela, é importante estar atento para essa possibilidade e identificar se os familiares do paciente também possuem aquela alteração genética.
Como saber se o câncer é hereditário?
Suspeita-se que um câncer seja hereditário quando o paciente é jovem, com menos de 60 anos; se há um histórico familiar muito forte, parentes próximos, como irmã, tia, mãe, que tiveram a doença; ou se alguém da família desenvolveu câncer precocemente.
“Existem mulheres que tem 35 anos de idade e desenvolvem um câncer. Isso é bastante incomum em uma população geral. Idade e se os familiares foram afetados nos levam a suspeitar que é hereditário e fazermos a investigação genética”, o Dr. diz.
A investigação genética vai verificar qual alteração no DNA esse paciente tem e se seus familiares também possuem a mesma mutação. Caso eles também tenham, a pessoa será colocada em um esquema de prevenção bem diferente da população geral.
No caso do câncer de mama, por exemplo, pode ser feita a mastectomia profilática para evitar o desenvolvimento do tumor. Já no câncer de ovário, o órgão pode ser retirado em mulheres que já têm filhos e mais de 40 anos.
O Dr. Oliveira explica que mesmo que não sejam medidas cirúrgicas, será feita uma prevenção diferente para identificar a doença precocemente.
“A indicação para fazer mamografia, normalmente, é a partir dos 40/50 anos. As mulheres que têm a mutação genética identificada começam a fazer ressonância das mamas aos 25 anos. Ou seja, bem diferente da população normal. Além disso, logo depois tem que começar a fazer ressonância em um semestre e mamografia no outro”.
O mesmo vale para o câncer de intestino. Caso seja identificado que ele é hereditário, a pessoa terá que realizar a colonoscopia desde jovem e não só após os 50 anos.
O câncer hematológico é hereditário?
Assim como os outros tipos de câncer, no geral o câncer hematológico não é hereditário. Mas alguns tipos, como as doenças mieloproliferativas e os tumores pediátricos, podem levantar a suspeita.
“Nas leucemias comuns em adultos, a maioria não tem causa hereditária. Entretanto, em crianças, você tem que ficar de olho para descartar uma doença genética hereditária. O linfoma não é um tipo de câncer comumente considerado hereditário, mas algumas leucemias e doenças mieloproliferativas podem ser”, explica o médico.
E quanto a transmissão por contato? O câncer é uma doença contagiosa?
Primeiramente, a Drª. Michelle Zicker, infectologista da Rede de H. São Camilo, explica que doença contagiosa é aquela que pode ser contraída por meio do contato com uma pessoa ou objeto infectados, pela via respiratória ou contato com um organismo de origem vegetal ou animal.
“Uma doença transmissível é causada por um agente infeccioso (vírus, bactérias, fungos, parasitas) ou seus produtos tóxicos. Ela se manifesta pela transmissão desse agente ou produto para um organismo suscetível”, afirma a infectologista.
Por isso, o Dr. Gustavo Zamperlini, oncologista da mesma rede de hospitais, ressalta que o câncer definitivamente não é contagioso! “Independente da forma de contato: beijo, sexo, respirar em mesmo ambiente ou mesmo toque pele a pele o câncer não se transmite ou não se espalha. A causa do câncer está relacionada à alteração no DNA, o material genético das células”.
Ele completa dizendo que essas alterações podem ser causadas por motivos hereditários, conforme o Dr. Oliveira explicou anteriormente, exposição a fatores de risco (álcool, cigarro, raios UVA e UVB, etc) e infecções virais.
É importante salientar que as infecções virais em si podem sim ser transmitidas via transfusão sanguínea ou contato sexual. Por exemplo, vírus das hepatites, HIV ou HPV.
Uma mãe pode transmitir câncer para o filho na gravidez?
É possível, porém é extremamente raro!
O Dr. Zamperlini conta que o risco de uma mulher desenvolver um câncer durante a gravidez é baixíssimo, cerca de 1 a cada mil gestações. Da mesma forma que é muito improvável que esse câncer seja passado ao filho durante a gravidez.
É possível transmitir câncer por meio do transplante de órgão?
“Essa é a única situação em que uma pessoa pode passar ou transmitir o câncer para outra pessoa”, conta Dr. Zamperlini.
Caso uma pessoa receba um órgão de um doador que teve câncer no passado, ela pode apresentar um risco aumentado. Entretanto, também é muito improvável que isso aconteça.
“Esse risco é extremamente baixo – cerca de dois casos de câncer por 10 mil transplantes de órgãos, de acordos com dados do National Institute of Cancer (NIH)”, finaliza o médico.
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