Pessoas com câncer podem realizar o congelamento de óvulos pelo SUS? Entenda

A quimioterapia pode afetar a fertilidade do paciente de câncer. Caso a pessoa ainda queira ter filhos, é necessário realizar o congelamento de óvulos
Além do impacto causado pelo diagnóstico de um câncer, pacientes que ainda querem ter filhos têm que lidar de imediato com um dos possíveis efeitos colaterais da quimioterapia: a infertilidade. Para evitá-la, é necessário que a pessoa congele óvulos ou espermatozóides, mas o procedimento pode custar caro. É possível que pessoas com câncer tenham acesso ao congelamento de óvulos pelo SUS? Entenda.
Artur Dzik, diretor da Reprodução Humana do Hospital da Mulher de São Paulo, explica que a quimioterapia afeta muito a fertilidade. No caso de ovários, por exemplo, o médico conta que “infelizmente, não temos como ter certeza se a pessoa vai entrar em falência ovariana ou não”.
A falência ovariana acontece quando os ovários deixam de produzir o estrogênio, um hormônio, e os óvulos deixam de ser liberados regularmente.
Como é o processo de congelamento de óvulos
Segundo o especialista, o procedimento para preservar a fertilidade é tranquilo. Primeiro, é preciso induzir a ovulação. No protocolo utilizado no Hospital da Mulher, a indução pode ser realizada em qualquer fase do ciclo menstrual.
“No dia que a pessoa vem em consulta, se ela tiver condições clínicas, começamos o estímulo naquele dia, indicando um protocolo específico para a fase do ciclo que ela está”, informa Dzik.
Depois, é preciso esperar entre 10 e 12 dias para realizar a coleta dos óvulos. Para a coleta, é feita uma “leve sedação com a anestesista e fazemos uma pulsão transvaginal para a coleta dos óvulos. É um procedimento ambulatorial, super simples, leva umas duas horas”, conta o médico.
Após a coleta dos óvulos, o paciente já pode iniciar o tratamento com a quimioterapia. “Se o oncologista não der esse tempo, não temos condições de preservar a fertilidade”, diz Dzik.
Quem pode preservar a fertilidade?
Para realizar o procedimento de congelamento de óvulos, é preciso que o oncologista encaminhe e autorize a pessoa a preservar a fertilidade antes de começar o tratamento com quimioterápicos. “Nós somos atores coadjuvantes, o ator principal é o oncologista. Não podemos interferir no prognóstico e na conduta oncológica”, informa Dzik.
Depois disso, o paciente precisa passar por uma avaliação clínica com os médicos responsáveis pelo processo de preservação da fertilidade. No caso de pessoas com cânceres do sangue, Dzik ressalta que “se elas vêm com o quadro de uma anemia muito importante, temos dificuldade de preservar a fertilidade, porque eu preciso que elas tenham coagulação. É preciso no mínimo 50 mil plaquetas”.
Já as crianças, o especialista relata que não é possível preservar a fertilidade daquelas que ainda não têm o eixo hipotálamo-hipófise ovariano maduro, ou seja, que ainda não menstruaram.
E depois do câncer?
Dzik informa que depois do tratamento do câncer, ele precisa que o oncologista e o ginecologista avaliem clinicamente a pessoa e libere para engravidar. Depois disso, é realizada, com uso de tecnologia, a desvitrificação do óvulo e a inseminação com o sêmen.
“Aí temos que preparar o útero e transferir o embriãozinho para dentro dele”, conta o especialista.
Caso a fertilidade tenha sido atingida pela quimioterapia, mas a pessoa não teve oportunidade de preservá-la anteriormente, Dzik explica que é possível engravidar por meio de doação de óvulos.
Onde é possível realizar a preservação da fertilidade?
Apesar de existir, desde 2005, a Política Nacional de Atenção Integral em Reprodução Humana Assistida, a criopreservação da fertilidade não é prevista nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do SUS. Apenas alguns Centros de Reprodução Humana Assistida (CRHAs) realizam o procedimento pelo SUS, como o Hospital da Mulher e o Hospital das Clínicas de São Paulo.
Mesmo nos hospitais que realizam a preservação da fertilidade, são realizados, por ano, poucos procedimentos. Segundo o Hospital da Mulher, que é administrado pelo Serviço Social da Construção Civil do Estado de São Paulo (Seconci-SP) em parceria com o estado e a prefeitura de São Paulo, estava prevista em contrato a realização de 10 procedimentos por mês durante o ano de 2024 para pacientes do hospital.
Porém, o Hospital da Mulher informou que foram realizadas 38 preservações oncológicas da fertilidade durante todo o ano de 2024. Para 2025, o contrato prevê 40 vagas por mês para a preservação de fertilidade dos pacientes do SUS.