Projeto Onco TeleInterconsulta visa melhorar tratamento de pacientes com câncer
Última atualização em 6 de dezembro de 2023
Projeto conecta profissionais da saúde que trabalham na oncologia e os ajuda a oferecer um tratamento mais completo e adequado
A Dra. Maria queria muito atender e tratar pessoas com câncer. Para isso, cursou os seis anos de Medicina, em seguida, fez dois anos de residência em Clínica Médica e mais três anos de especialização em Oncologia Clínica. Depois de ter terminado sua formação e já estar atuando na área há algum tempo, um paciente com um caso complexo a procurou e a médica não tinha expertise e os recursos necessários para tratá-lo e garantir que ele tivesse o melhor desfecho possível. Assim, a especialista ficou em dúvida e não sabia a quem recorrer, pois o centro de tratamento no qual atendia não possuía especialistas na área e as condições tecnológicas no local eram pequenas.
Tanto a Dra. Maria, quanto o caso relatado acima, são fictícios, mas são baseados em fatos reais. Isso acontece, principalmente, porque a distribuição de médicos, centros de tratamento especializados em Oncologia e aparelhos para realizar as terapias são desiguais no país.
Por exemplo, segundo a Demografia Médica no Brasil de 2023, produzida pela Associação Médica Brasileira e pela Faculdade de Medicina da USP, enquanto na região Norte há 1,45 médicos para cada 1.000 habitantes, no Distrito Federal são 5,53 profissionais para a mesma quantidade de pessoas.
Já em relação à distribuição de hospitais e recursos terapêuticos, apesar de cada estado brasileiro possuir um centro público habilitado em Oncologia, metade dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) precisa sair da sua cidade para poder se tratar. Sendo que o deslocamento é maior no Norte e no Centro-Oeste, onde eles enfrentam de 296 a 870 quilômetros para receber a terapia.
Além disso tudo, mais brasileiros serão diagnosticados com câncer neste e nos próximos anos. Para cada ano do triênio 2023-2025, serão 704 mil novos casos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Ou seja, temos mais pessoas com essa doença e nem todos os centros de tratamento estão preparados para atender esses pacientes da melhor forma possível. Sabendo dessa dificuldade e das dúvidas que os profissionais de saúde podem ter, a ABRALE desenvolveu o Projeto Onco TeleInterconsulta.
A iniciativa foi lançada em outubro de 2021 e seu objetivo é promover o diálogo entre os profissionais de saúde, utilizando a telemedicina, para possibilitar que os pacientes oncológicos tenham o melhor desfecho clínico possível.
Como o Projeto Onco Teleinterconsulta funciona
Lembra do caso fictício que contamos no início da matéria sobre a Dra. Maria? Ela seria uma médica que poderia contar com a ajuda dessa iniciativa.
Nessa situação, a especialista entraria em contato com o Projeto, forneceria as informações sobre o caso no qual ela está em dúvida e passaria por uma Interconsulta com os megaespecialistas que fazem parte deste programa.
Após isso, a Dra. Maria debateria o caso e receberia conselhos desses megaespecialistas sobre qual o melhor tratamento ou estratégia, e esclareceria suas dúvidas. Assim, ela poderia oferecer a terapia mais adequada para o paciente, para que ele pudesse ter uma melhor evolução, menos efeitos colaterais e/ou uma maior chance de cura
“Imagina aquele caso oncológico complexo, ou aquele paciente que já fez várias modalidades terapêuticas e não responde ao tratamento, ou então aquele tumor de diagnóstico supercomplicado. Nesses casos, o médico tem a oportunidade de discutir com experts dos grandes centros oncológicos nacionais e chegar a uma decisão de melhor conduta”, João Victor Damasceno Mourão, enfermeiro especialista em Oncologia Pediátrica e Coordenador do Projeto Onco TeleInterconsulta, esclarece.
João conta que ainda há uma segunda modalidade dentro do projeto, a Consultoria. Essa categoria é para pessoas da equipe assistencial ou administrativa que tiveram uma ideia de projeto para melhorar algum processo interno, mas precisam de ajuda para tirá-lo do papel.
“Para esses casos, oferecemos consultoria especializada com renomados profissionais da área da Saúde para orientar projetos para serviços de saúde em Oncologia”, explica.
Ele também pontua que, inicialmente, as Interconsultas e as Consultorias eram feitas somente de médico para médico, mas a partir deste ano, o projeto foi ampliado para beneficiar vários profissionais da Saúde do SUS, como: nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiros e assistentes sociais.
“A Oncologia permanece desafiando os profissionais de saúde a despeito de todo investimento realizado em tecnologias e pesquisas. Por isso, estratégias que disseminam informações aos profissionais de saúde são sempre válidas. A Onco TeleInterconsulta é uma iniciativa que visa atender os profissionais que atuam na rede pública em Oncologia no intuito de oferecer essa troca de conhecimentos”, diz o enfermeiro.
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O projeto até agora
Para poder atender profissionais da Saúde de todo o Brasil e ligar especialistas de diversas regiões, sem que eles precisem se deslocar, o Projeto Onco TeleInterconsulta acontece de forma totalmente on-line, por meio de ferramentas da telemedicina. Até agora, mais de 55 instituições de todo o país já fizeram parceria e a meta é chegar a 110. Já foram realizadas dezenas de Interconsultas e Consultorias. Todos aqueles que participam avaliam o projeto de forma muito positiva e o consideram como uma excelente ferramenta para troca de informações.
Cibele Silveira é oncologista clínica no Hospital Regional do Câncer (HRC) de Passos, em Minas Gerais, e conta sua experiência com o projeto.
“Apesar de sermos um hospital grande, ainda não temos divisão de profissionais por subespecialidade oncológica e é esse o diferencial do projeto, que tem sido de extrema resolutividade nos casos que pedimos apoio. Estamos impressionados com a qualidade dos profissionais envolvidos, na disponibilidade e agilidade do processo. Somos um hospital com mais de 90% dos pacientes atendidos pelo SUS e, com o projeto, estamos conseguindo buscar soluções e melhorar a qualidade dos tratamentos dentro da nossa realidade. Toda a equipe do HRC é muito grata e pretende participar cada vez mais.”
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Quanto às Consultorias, João conta que eles já receberam várias solicitações muito interessantes e que tiveram um grande impacto nas instituições, melhorando desde indicadores de qualidade assistencial aos ambulatórios de quimioterapia e até ajudando na implementação do serviço de pesquisa clínica.
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Quem pode fazer parte desta Interconsulta
Todos os profissionais de saúde que atendem no Sistema Único de Saúde (SUS) e atuam em Unidades de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), Centros de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) ou hospitais gerais com cirurgia oncológica podem debater os casos com os megaespecialistas e profissionais com muita experiência na Oncologia podem se tornar parte da iniciativa.
“Nosso desejo é que cada vez mais pacientes tenham acesso a um melhor tratamento por meio da propagação de informações”, finaliza João Victor Damasceno Mourão.
Para saber mais sobre o Projeto Onco TeleInterconsulta e indicá-lo para a equipe multidisciplinar que lhe acompanha, acesse: www.abrale.org.br/oncoteleinterconsulta.
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