Os efeitos do câncer na autoestima masculina
Última atualização em 29 de julho de 2021
As mudanças no corpo causadas pelo tratamento oncológico fazem com que o paciente tenha dificuldade em se reconhecer. E não é diferente para eles
Perda de peso, queda de cabelo e pelos, mudança na coloração da pele, entre outros, são alguns dos efeitos causados pela quimioterapia e radioterapia e normalmente abalam de maneira negativa a maneira como a pessoa se enxerga.
AUTOESTIMA MASCULINA Como ela é afetada pelo tratamento?
A psicóloga da Abrale, Agnes Ayumi Sewo, utiliza os cânceres de próstata e mama, os dois tipos mais comuns em homens e mulheres, respectivamente, para exemplificar a situação.
“Se a gente pensar na mama, é um órgão muito simbólico de feminilidade e de atrativo. Já o câncer de próstata no homem, pensando na região mesmo, é muito menos aparente. Mas ele sente um misto de culpa e vergonha de contar sobre a doença. Isso por conta da região, primeiramente, e por ele se julgar responsável pela doença”, explica a psicóloga.
Ela diz que a grande diferença entre trabalhar a autoestima masculina de feminina é a questão de se enxergar e ser enxergado. Enquanto a mulher, estando bem consigo mesma e se enxergando bonita, fica confiante e isso reflete nas suas relações. Já o homem tem a tendência em se preocupar mais como o exterior o enxerga. Como e o que a sociedade e a mídia vão achar dele.
Sem motivo de vergonha
“A preocupação com que o outro vai pensar acontece, principalmente, devido à sociedade brasileira ser patriarcal. Portanto, é vista como obrigação do homem trazer dinheiro para casa – apesar desse cenário estar mudando! Então eles sentem um pouco de vergonha de não poder ajudar em casa e medo por estarem com câncer. Isso, muitas vezes, até coage o próprio paciente a não procurar ajuda”, diz Agnes.
Diego Pacheco, paciente de leucemia linfoide aguda (LLA), que realizou dois transplantes de medula óssea (TMO), conta que um dos fatores que mais impactou sua autoestima foi a mudança em sua coloração de pele.
“Por conta da medicação que eu tomei, o pigmento da minha pele mudou. Ela ficou um pouquinho mais marrom. Então, isso me deixou bem chocado, assustado e eu ficava meio envergonhado de sair ou fazer alguma coisa. As pessoas achavam que eu estava tomando Sol, mas eu sabia que aquela tonalidade não era disso”, conta ele.
BAIXA AUTOESTIMA MASCULINA Como acontece?
A autoestima masculina está muito ligada à questão da masculinidade. “E masculinidade é sinônimo de força, de não desistir, ir sempre em busca dos desafios, dos objetivos e conseguir. Falhar, para eles, é algo inadmissível”, explica Agnes.
“Controle”, segundo a psicóloga, é uma palavra-chave nesse processo. Antes do diagnóstico oncológico, o homem é uma pessoa ativa, que trabalha, cuida da família e administra sua vida. Ao dar início no tratamento, ele para de ter controle sobre esses aspectos e passa a ser controlado pelo tratamento. Além também de ficar dependente dos cuidados de outros, como o/a cônjuge.
“Então, uma mente fértil e criativa, se não estiver bem trabalhada e não receber o suporte da equipe, acaba definhando”, alerta a profissional. Ela ainda complementa que nessa situação, pode acontecer de o paciente não conseguir ampliar o olhar e aceitar que precisa de ajuda. Isso não é motivo de culpa nem vergonha, mas é recomendado procurar um profissional para ajudar nesse processo.
“A grande questão é eles entenderem que é um momento da vida. Uma situação na qual eles acabam ficando dependente. Mas que é passageiro”, ressalta Agnes.
Diego acredita que a autoestima pode influenciar completamente no tratamento. ela “Ela mexe diretamente com o ego, e nós somos o ego. Durante o tratamento você quer receber amigos e mostrar que está bem. Mas, você estando com a autoestima baixa, é bem complicado. Isso porque você não quer que as pessoas te vejam, não quer viver em sociedade, só quer ficar escondido. ”
Como aumentar a autoestima masculina
Tanto Agnes quanto Diego concordam que o melhor jeito de aumentar a autoestima é conversar e colocar para fora!
“Eu aprendi pôr para fora”, diz Diego. “Eu acho que faz bem você desabafar. O tratamento fez com que eu me descobrisse uma outra pessoa. Me descobri um pouco mais racional, pensando um pouco mais em relação às minhas ações. Então conversar e descobrir o porquê de determinadas coisas dentro da autoestima no tratamento tem me ajudado demais! ”
A Agnes explica que acumular sentimentos e pensamentos pode fazer com que o paciente crie fantasias irreais. “Na psicoterapia, é importante a pessoa conseguir compartilhar e dividir o que ela está sentindo sem se sentir julgada. É um espaço de acolhimento, de escuta, carinho, troca. Conversar faz com que eles voltem a se sentir seguro”, diz ela.
A importância do dividir as experiências é evitar que os sentimentos transbordem e não levem a uma depressão, ansiedade ou síndrome do pânico. Podendo até evoluir para doenças mais graves.
Diego conta que além da terapia fez uma análise de si mesmo. “O que eu quero como ser humano? Quero ter cabelo para sempre, é isso mesmo? Não. Então eu fui fazendo uma autoanálise disso que eu tenho vivido e experimentado. Do que eu quero para mim, do que eu quero para o meu futuro. E isso foi me ajudando aos poucos a melhorar minha autoestima. Eu comprei algumas roupas, algumas coisas diferentes que me ajudaram bastante. Fez eu me sentir mais seguro, o fato de eu estar careca não me incomoda mais, eu já acho que é style. Deixei o bigode crescer, a sobrancelha já voltou. Então eu procurei formas, escapes para me ajudar a melhorar a autoestima.”