Fofocas virtuais
Última atualização em 29 de julho de 2021
Entenda porque as informações falsas têm causado preocupação na Saúde
Notícias falsas, fofoca e boatos não são exatamente uma novidade. Elas estão presentes na sociedade desde o momento que aprendemos a nos comunicar. Mas com a chegada da Internet, tudo isso ganhou um volume inesperado e até mesmo preocupante.
Para se ter uma noção, de acordo com uma pesquisa feita pela Internet Live Stats, a cada 60 segundos mais de 455 mil tweets são escritos, 46 mil fotos compartilhadas no Instagram, 3 milhões de posts criados no Facebook, 3,6 milhões de pesquisas realizadas no Google e 15 milhões de mensagens trocadas via celular.
Os números são impressionantes! E em meio a toda essa quantidade de informação, nem todas as notícias compartilhadas são verdadeiras.
Mas, como identificar uma notícia falsa?
Essa não é uma tarefa fácil. Os responsáveis por criar estes conteúdos sabem exatamente o que irá chamar atenção do público-alvo. Por isso criam títulos chamativos, que anunciam, por exemplo, a cura para o câncer. Também usam no texto fontes e nomes confiáveis para passar ainda mais credibilidade.
E com tantos artifícios, a chance de uma notícia falsa ser compartilhada é 70% maior do que uma informação verdadeira.
“Ao receber um diagnóstico como o do câncer, é normal que a pessoa fique fragilizada e passe a buscar informações que tirem suas angústias. Elas se tornam presas fáceis para estas fake news. Muitas chegam a abandonar o tratamento convencional, e isso é muito perigoso. Nós, médicos, somos duplamente prejudicados. Primeiro, porque ficamos como os ‘malvados’, que destroem sonhos ao dizer que determinada notícia não é verdadeira. E segundo porque o paciente pode passar a não se comunicar, com medo de ter sua esperança abalada”, disse o Dr. Bernardo Garicochea, diretor da Unidade de Oncogenética Centro Paulista de Oncologia/ Grupo Oncoclínicas.
Ainda de acordo com o médico, a conversa entre profissional e paciente é um dos pontos principais para um tratamento de sucesso.
“O especialista precisa estar preparado para atender o paciente e informá-lo sobre tudo o que for necessário. Nesta conversa é fundamental que todas as dúvidas sejam tiradas, inclusive sobre as notícias que saem por aí. A consulta é o momento ideal para isso. Também acredito que as organizações de pacientes, como a Abrale, têm um papel ideal para combater as informações incorretas”, completa.
Procurar a fonte certa
Tanto para buscar informações, quanto para compartilhá-las com seus amigos, é fundamental checar a fonte em que a notícia está publicada.
É verdade que, como citamos a pouco, hoje os “produtores” de fake news sabem muito bem forjar o conteúdo. Mas, uma coisa eles não conseguem: publicar em sites, jornais e revistas de referência, que possuem profissionais qualificados e que o conteúdo passa por uma curadoria antes de serem divulgados.
É justamente assim que trabalhamos na Abrale. Todos os conteúdos presentes em nossos canais de comunicação (site, revista e redes sociais) são aprovados e co-criados com um comitê médico e multiprofissional.
“Informar e conscientizar é a melhor forma de ajudar. Há 15 anos temos como um de nossos objetivos informar pacientes e familiares sobre as doenças, opções de tratamento, rede de assistência etc. Contamos com o apoio de profissionais de referência na Onco-Hematologia, que nos ajudam a construir estes conteúdos. Muito triste pensar que existem pessoas que desperdiçam seu tempo produzindo e compartilhando notícias falsas, que podem prejudicar a saúde de alguém. Isto é muito grave e deve ser combatido ferozmente, inclusive com a criação de novas leis”, diz Merula Steagall, presidente da Abrale.
Por de trás da informação
Muitos pacientes tornam-se comunicadores, com o objetivo de dividir suas experiências com outras pessoas que também estejam enfrentando um câncer. E essa experiência é vista com bons olhos, desde que também siga a mesma linha de cuidados dos profissionais da área de comunicação.
As comunidades no Facebook ganharam importante espaço e ali muitos se sentem seguros tanto para expor suas dúvidas, quanto também para disseminar o que conhecem. E para que as informações sejam difundidas corretamente, alguns moderadores ficam responsáveis por filtrar o conteúdo.
Este é um dos papeis de Ana Paula Custódio, moderadora da página Linfoma de Hodgkin Brasil.
“Passei a fazer parte deste mundo quando meu filho, Lucas, descobriu um linfoma. Hoje temos quase 7 mil membros. Crescemos muito desde o surgimento, mas procuro acompanhar de perto todas as postagens. Ao longo deste tempo já percebi que as informações sobre a ‘cura do câncer’ têm épocas diferentes. Já tivemos a época da graviola, do limão, do açúcar, da fosfoetanolamina. Tenho cuidado com o que o público escreve e se achar necessário, excluo a postagem e a pessoa. Pode até ser uma atitude radical, mas é melhor assim”, conta.
Lucas Campos, paciente de leucemia mieloide crônica também dá atenção especial aos conteúdos disseminados pelos membros de sua página, a Vivendo com LMC.
“Muitas vezes, postam notícias que considero duvidosas, por não terem nenhuma confirmação científica ou fonte concreta. Quando isso acontece, alertamos para os perigos e apagamos o post. Hoje, também selecionamos quem entra no grupo, justamente para saber se há boa intenção. Acho que o primeiro passo é sempre, antes de compartilhar, checar a notícia. Não é porque um parente ou amigo compartilhou, que o conteúdo é verdadeiro. Também é preciso ter extremo cuidado com promessas de ganhos fáceis”, fala Lucas.