Por que não comer alimentos crus durante o câncer?

Eles podem aumentar as chances de infecções e até levar à morte. Porém, nem todos os alimentos crus estão proibidos
Por Natália Mancini
Durante muito tempo, os alimentos crus foram os grandes vilões na dieta dos pacientes com câncer. Em partes, isso continua sendo verdade, entretanto, atualmente, alguns estudos mostram que, talvez, não seja necessária tanta rigidez com certas comidas. Ainda assim, o cuidado e atenção com o que está sendo consumido devem continuar inflexíveis.
O grande perigo desse tipo de alimento são as bactérias presentes e que podem representar uma ameaça para os pacientes oncológicos.
Erika Yuri Hirose Murahara, membro do Comitê de Nutrição da Abrale e nutricionista no hospital Sírio Libanês, conta que isso acontece porque um dos principais efeitos colaterais da quimioterapia é a neutropenia. Essa é uma condição na qual ocorre uma queda na quantidade de glóbulos brancos, especialmente os neutrófilos, que estão relacionados à defesa do organismo contra as bactérias. Como consequência dessa queda está a maior probabilidade do paciente contrair uma infecção grave.
“Durante a neutropenia, apesar da maioria das infecções resultar da própria microbiota do paciente, diversos estudos reportaram isolar organismos como Pseudomona Aeruginosa, Escherichia coli, Klebsiella sp e Proteus sp de variedade de frutas, vegetais e carnes cruas”, comenta a nutricionista.
Como forma de evitar possíveis contaminações, foi considerado que a dieta neutropênica era a mais adequada para os pacientes. Nela, só estaria permitida a ingestão de alimentos cozidos e esterilizados.
“Entretanto, atualmente, não existem evidências científicas para apoiar o uso dessa dieta”, Erika afirma.
Alimentos crus para pacientes oncológicos
De acordo com a especialista, caso as pessoas desse grupo consumam alimentos crus que estejam contaminados, elas podem adquirir doenças transmitidas por alimentos (DTA). No Brasil, a Salmonella é o principal agente etiológico. Em seguida, estão a Escherichia coli e o Staphylococcus aureus, responsáveis pela colibacilose e intoxicação estafilocócica.
Os sintomas de doenças transmitidas por alimentos contaminados são: dores abdominais, diarreia, febre, calafrios, náusea e vômito.
“As DTA são importante causa de interrupção do tratamento, morbidade, como hepatite, falência renal e meningite, e mortalidade”, alerta Erika.
Quais cuidados devemos ter com os alimentos ingeridos crus?
No caso das frutas, verduras e legumes, é preciso seguir as diretrizes de manuseio seguro de alimentos recomendadas pela FDA (Food and Drug Administration) e a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Deve-se lavar o alimento em água corrente um a um, em seguida, deixá-lo de molho por dez minutos. Essa solução precisa conter uma colher de sopa rasa de hipoclorito de sódio para cada litro de água potável. Por último vem o enxágue em água filtrada e corrente.
“O consumo dessas comidas cruas é sempre recomendado, independente da etapa do tratamento. Entretanto, desde que as condições higiênico sanitárias do alimento sejam asseguradas”, ressalta a nutricionista.
Assim, é preciso estar atento às condições do alimento. Ou seja, ele deve estar íntegro, sua textura, cor e odor devem estar preservadas e sem possuir manchas ou riscos. Erika dá a dica de também se informar sobre o processo natural de amadurecimento de cada fruta. Caso esteja muito diferente, evitar o seu consumo.
Por outro lado, no caso da carne crua ou mal passada e ovos com gema amolecida, a autorização depende de cada paciente. Além também do tipo de tumor, fase do tratamento, grau de orientação do paciente e condições de reproduzir os cuidados de segurança dos alimentos.
“A solução para evitar a contaminação via frutas, verduras e legumes crus está na higienização. Enquanto que, para carnes e outros produtos de origem animal, está no cozimento”, explica Erika.
Ela ainda complementa falando que a carne mal passada entra em contato com o fogo por um período bastante curto. Isso pode ser perigoso, pois é durante a etapa de cocção que é possível eliminar as bactérias e evitar o risco de contaminação. O ponto certo é quando a carne está clara e não avermelhada.
Comida japonesa e câncer
Para o consumo da comida japonesa durante a quimioterapia, as orientações são as mesmas. Os sashimis, peixes e frutos do mar crus não devem ser ingeridos.
“A oscilação de temperatura durante o armazenamento desses alimentos aumenta ainda mais o risco de DTA”, a especialista salienta.
Alimentos crus durante a quimioterapia
As frutas, verduras e legumes crus são restritos somente se o paciente obtiver os alimentos de locais com condições higiênico-sanitárias duvidosas.
“A restrição aos demais alimentos crus, geralmente, é prescrita aos pacientes em quimioterapia, onco-hematológicos, a depender do diagnóstico e tratamento, ou àqueles submetidos ao transplante de medula óssea, pelo risco de imunossupressão relacionado ao tratamento citotóxico e/ou à doença de base”, finaliza Erika Yuri Hirose Murahara.