Preservar a fertilidade: ter um filho após o câncer
Última atualização em 16 de agosto de 2021
O câncer pode impossibilitar a geração de um filho no futuro. Entretanto, as técnicas de preservação de fertilidade têm mudado esse cenário
A Drª Juliana Pariz, especialista em andrologia e reprodução humana, explica que preservação da fertilidade “são métodos desenvolvidos para preservar gametas e tecidos germinativos em situações em que é possível prever prejuízos na capacidade de se ter filhos biológicos”.
No caso do câncer, esses métodos são muito importantes devido à toxicidade que as terapias causam no corpo do(a) paciente. A quimioterapia, por exemplo, pode fazer com que o ovário e o testículo parem de produzir gametas (óvulo e espermatozoide). Consequentemente, essa pessoa terá dificuldade ou até estará impossibilitada de ter um filho sem o auxílio dessas técnicas.
“O tratamento oncológico pode ser muito tóxico para o ovário. Então, podemos utilizar várias técnicas de reprodução assistida para que essa mulher possa ser mãe futuramente”, diz Dr. Alexandre Lobel, ginecologista especialista em reprodução assistida e preservação da fertilidade da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
O mesmo vale para os homens!
“A cada ano, 80% dos pacientes homens diagnosticados com cânceres sobrevivem à doença e ao tratamento. Entretanto, essas terapias podem afetar diretamente o potencial fértil masculino, pois podem agir especialmente na produção de gametas. Dessa forma, não haverá mais produção de espermatozoide. Mas todos os homens podem preservar a sua fertilidade”, conta a Drª. Juliana.
Métodos de preservação da fertilidade para mulheres
O Dr. Lobel ressalta ser muito importante todos os médicos que tiverem contato com essa paciente a alertem sobre a questão da fertilidade já que, às vezes, o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento é curto. Isso dificulta a realização de alguns dos métodos de preservação, como o congelamento de óvulos e de embrião.
“A paciente está passando por um clínico geral, por exemplo, e existe uma suspeita grande de alguma doença onco-hematológica. Ela está investigando qual subtipo, mas não existe dúvida que é uma doença onco-hematológica. Nesse momento, já é legal avisá-la que, dependendo do tratamento, a sua fertilidade pode ser afetada”, exemplifica ele.
Existem três tipos de métodos que podem ser utilizados. O congelamento de óvulos, o congelamento de embrião e o congelamento de tecido ovariano. Para congelamento dos óvulos e do embrião, é preciso ter disponível de 10 a 14 dias. Então, do momento em que é indicado para a paciente realizar algum desses métodos até a realização desse procedimento, são necessárias quase duas semanas. Por isso é importante conversar com a paciente o mais cedo possível.
“O congelamento do embrião e dos óvulos são técnicas bem similares. Então, uma mulher casada pode optar por captar os óvulos, pela fertilização, e congelar os embriões já prontos. É possível congelarmos somente o óvulo, para dar a essa mulher uma maior autonomia”, explica o doutor.
Caso o tempo necessário não seja possível, é utilizado o congelamento do tecido ovariano. Para essa técnica, é realizada uma cirurgia minimamente invasiva na região da barriga, retirado um fragmento do ovário, que será congelado. No dia seguinte, essa paciente já pode dar início ao tratamento oncológico.
E para os homens? Quais os métodos de preservação da fertilidade?
A técnica mais comum é a coleta de sêmen por meio da ejaculação natural. Esse método deve ser realizado em sala anexa ao laboratório de andrologia ou no leito do hospital. Caso esse paciente não tenha espermatozoides no ejaculado, pode-se extrair os espermatozoides ou tecido testicular em uma cirurgia.
O Dr. Jorge Hallak, especialista em reprodução assistida de homens, alerta que a coleta do sêmen não deve ser inferior a quatro amostras para que esse paciente tenha mais chances de ser pai. Entretanto o número exato depende da capacidade do espermatozóide sobreviver ao processo de criopreservação e congelamento. Ou seja, o número de coletas vai depender muito de cada indivíduo e do comportamento em termos de preservação do DNA e sobrevivência do espermatozoide após ele ser descongelado.
“Por exemplo, dois indivíduos com o mesmo tumor podem não se comportar da mesma maneira quando descongelamos a amostra para fazer um teste chamado de criosobrevivência. Um pode ter sobrevivência dos espermatozoides de 5% e o outro de 30%, que é o esperado. Então, esses indivíduos precisam ter números diferentes de amostras coletadas. Aquele que tem uma sobrevivência menor, precisa de um número maior de coletas para que ele tenha mais chances de ser pai no futuro”, conta o Dr. Hallak.
As crianças e adolescentes também podem preservar a sua fertilidade
As meninas que ainda não tiveram a primeira menstruação e os meninos que ainda não produzem espermatozoides também têm opções para preservação da fertilidade. Entretanto, eles ainda não são métodos com eficiência 100% comprovada.
Para os meninos, a criopreservação do tecido testicular é a única opção. Essa técnica consiste em retirar um fragmento do tecido do testículo, congelá-lo e, futuramente, ele poderia ser utilizado para gerar um filho. O grande problema desse método é que, nessa idade, normalmente, ainda não há células maduras e ele ainda está em estudo.
No caso feminino, caso a paciente não tenha tido a primeira menstruação, significa que ela ainda não está ovulando. Por isso, o indicado seria realizar o congelamento de um fragmento do tecido ovariano. Entretanto, esse método também é considerado experimental em alguns países.
Quanto tempo esse material preservado dura?
Não existe um tempo definido, o(a) paciente pode utilizar esse material mesmo que muito tempo depois!
“Antes, falávamos de um prazo de cinco anos. Entretanto, hoje já temos casos de óvulos e embriões que ficaram mais de 10 anos congelados e não houve prejuízo na carga genética nem na gravidez”, diz o Dr. Lobel.
Isso acontece porque os óvulos, ou o embrião, permanece congelado no nitrogênio líquido a -196ºC, não existindo atividade celular. É como se a célula ficasse “parada” e, por isso, pode ser congelada o tempo que for necessário.
Em relação às chances de gravidez, o ginecologista considera a idade em que o material foi preservado como fator mais importante para determinar a taxa de sucesso.
“Quando a mulher congela o óvulo ou o embrião, essas células mantém a idade na qual esse material foi congelado. Então, por exemplo, uma mulher de 20 anos congela os óvulos e ela chega com 50 anos para utilizá-los. Sua taxa de gravidez vai ser praticamente como se ela tivesse 20 anos”, explica ele.
No caso das mulheres, é preciso fazer um preparo hormonal no útero para que ele esteja pronto para receber o embrião. É administrado estrogênio na paciente para repor o hormônio que não está sendo produzido. Depois, na segunda fase, aplica-se a progesterona e, em seguida, o embrião é introduzido.
O tempo de espera recomendado para engravidar após o final do tratamento oncológico depende do oncologista e da resposta da paciente. “Depende do oncologista e da doença, alguns pedem cinco anos, alguns pedem três. Depende do tipo do câncer e como ela respondeu ao tratamento”, finaliza o Dr. Alexandre Lobel.
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Muito bom
Olá, Geovanna, como vai?
Ficamos felizes em saber que você gostou do nosso conteúdo! Qualquer dúvida, estamos á disposição.
Abraços!
Esse procedimento e gratuito ?
Olá, Thalyta, como vai?
Em alguns casos, pacientes mulheres que estão em tratamento oncológico conseguem fazer o congelamento gratuitamente pelo SUS. Mas, normalmente, ele é feito em clínicas particulares.
Abraços!