Câncer e sexo na terceira idade
Última atualização em 26 de julho de 2022
Cuidados durante o tratamento oncológico devem ser respeitados para evitar infecções
As pessoas ficam cada vez mais velhas no Brasil. Mesmo assim, o sexo na terceira idade continua sendo um tabu e bem pouco comunicado. Se por um lado, o país mostra que vem caminhando no desenvolvimento, por outro, deixa evidente que ainda é preciso evoluir nas questões educacionais, e até mesmo culturais.
A sociedade tem uma visão distorcida sobre a população idosa e entende que a prática sexual está relacionada com a juventude, com corpos padrões e produtividade. E, não é bem assim
Caio Henrique Vianna Baptista, psicólogo do Hospital São Luiz, da Rede D’or, e membro do Comitê de Psicologia da ABRALE, ressalta que vivemos uma cultura da beleza em detrimento da velhice.
“Não podemos pensar que sexo e beleza andam juntos, ou que velhice e beleza não andam juntas, por exemplo. Estamos muito pautados na cultura dos corpos, ou seja, quanto mais bonito e produtivo, e dentro de alguns padrões, mais você é desejado. E isso não é uma realidade. Na velhice também podemos falar de uma vida sexual ativa. Hoje, o advento de medicações para disfunção erétil e de lubrificantes para mulheres que entraram na menopausa, têm melhorado as condições para que os idosos façam sexo”, pontua.
Sexo na terceira idade em prática
Um outro fator que é preciso desmistificar é o significado do sexo/prática sexual. Muitos associam o sexo com a penetração. Mas uma relação sexual vai muito além disso. “O prazer é uma questão também psíquica e não somente corporal. O ato sexual pode corresponder a um carinho, a um lugar, ao toque, às carícias, ao clima criado. A maneira como as pessoas idosas levam a vida sexual pode ser um pouco diferente, mas é ativa. Os idosos não param de fazer sexo só por que são idosos”, fala o psicólogo.
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Cuidados também valem na melhor idade
Embora a prática sexual faça parte da realidade dos mais velhos, os cuidados parecem que não estão tão em dia. Pesquisas mostram que o número de casos de HIV na terceira idade quase dobraram na última década.
“A população idosa tem feito mais sexo e, por isso, as políticas públicas de saúde também precisam se atentar e investir em educação e políticas de combate às DSTs voltadas para esse público. É essencial falar sobre camisinha, sobre prevenção combinada”.
Por falar em cuidados durante o sexo, o paciente com câncer precisa estar ainda mais atento. Isso porque, tratamentos como quimioterapia, radioterapia e, até mesmo, o transplante de medula óssea, deixam a imunidade baixa, o que facilita o acesso a vírus e bactérias. Usar preservativo durante o sexo é fundamental. Conversar com o médico sobre o uso de medicamentos estimulantes sexuais também pode ser necessário, por causa de possíveis efeitos adversos.
Sexo na terceira idade, e durante o câncer, é possível
Receber o diagnóstico de uma neoplasia costuma causar um grande impacto na vida do paciente. Mudanças no cotidiano, no corpo, além de possíveis internações e efeitos colaterais mexem, e muito, com o emocional. E o sexo pode acabar se perdendo nesse momento. Mas buscar a redescoberta do sexo na terceira idade.
“O tratamento oncológico traz consigo uma série de medicações muito fortes. Então, esses pacientes têm reações próprias e isso, por si só, vai se amalgamar à questão da idade. As pessoas idosas apresentam um medo ainda maior de não serem mais desejadas por seus parceiros, por causa das mudanças físicas causadas pela idade e pelo tratamento, e isso pode representar um abalo emocional. Uma dica que pode ser interessante para o aumento da libido é a reformulação das práticas sexuais. Lembre-se de que sexo pode envolver uma série de questões, não somente a penetração. Além disso, conversar pode ser um caminho para uma vida sexual melhor. Falar sobre o que gosta, sobre como prefere a relação”, reforça Caio.
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Sexualidade é diferente de sexo
Os termos são parecidos, mas o conceito é diferente. O sexo está ligado à prática sexual e a sexualidade à identidade da pessoa, ou seja, como ela se vê e se expressa para o mundo. Mas tanto o sexo, quanto a sexualidade, são movimentos de descobertas corporais e emocionais.
“Hoje, falamos de uma revolução sexual com tipos de relações distintas, práticas sexuais diferentes e que não são passíveis de julgamentos. Então, o importante é pensarmos no conceito de sexo como uma atividade de prazer e na intimidade do indivíduo com o próprio corpo, que ele cria com uma ou mais pessoas. Infelizmente, ainda há uma marginalização do envelhecimento e, consequentemente, da prática sexual na velhice. Inclusive, vemos um movimento, que estamos chamando de ‘retorno ao armário’, para as pessoas idosas que são LGBTQIA+. E isso é muito triste. Porque, geralmente, esse público não é aceito. É preciso mudar”, finaliza Caio.