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Você sabe a diferença entre tristeza e depressão?

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Última atualização em 6 de maio de 2022

Saber nomear o que sentimos, especialmente durante o luto, é fundamental para identificar e, se necessário, fazer um tratamento

A diferença entre tristeza e depressão envolve, principalmente, a intensidade, duração e causas do quadro. Mas, às vezes, saber identificar e distinguir cada uma dessas características pode ser bastante complicado, especialmente quando envolve a perda de um ente querido. Nesses casos, luto, tristeza e depressão podem se embaralhar e, inclusive, é possível que a depressão pós-luto se desenvolva. Por isso, é importante entender o impacto dessa perda para saber como enfrentá-la e entender que tipo de ajuda procurar.

O primeiro ponto para entender a diferença entre tristeza e depressão é saber que a primeira se trata de um sentimento relacionado a um motivo e a segunda de uma doença.

“A depressão é um transtorno considerado sério, relacionado à saúde mental. Ele interfere na vida diária da pessoa e na sua capacidade de produtividade, como trabalhar, estudar, dormir, comer e aproveitar a vida, passear e ter hobbies. Faz com que a pessoa não consiga sentir prazer nas atividades cotidianas”, explica Fábio Gomes, psicólogo da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale). 

Ele acrescenta que é importante conseguir nomear se é tristeza ou depressão, pois nomear permite tratar a questão da melhor maneira possível – isso vale tanto para a própria pessoa, quanto para o profissional. “Porque uma tristeza é muito mais fácil de se solucionar que uma depressão”, pontua.

Diferença entre tristeza e depressão

Fábio conta que o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) lista três principais parâmetros para diagnosticar a depressão e eles podem ser usados para distinguir as duas condições: duração, intensidade e causa. 

Entretanto, vale ressaltar que, na maioria das vezes, considerar apenas um único parâmetro não é suficiente para o diagnóstico de depressão. Por isso, o DSM orienta que é preciso ter pelo menos dois dos parâmetros.

“Não é comum na tristeza ter esses fatores, eu posso ter um ou outro, mas não todos”, ele salienta.

Segundo o especialista, a tristeza está relacionada com algum acontecimento específico, já a depressão envolve diversos fatores. 

Por exemplo, a tristeza pode aparecer porque aconteceu uma briga com alguém querido, por estar com dívidas, perder o emprego etc. Ou seja, são situações que desencadeiam o sentimento. Provavelmente, ao resolver esse conflito, a tristeza será solucionada.

“Na depressão, a pessoa vai trazer vários motivos, mas, às vezes, a gente precisa identificar qual o verdadeiro fator. Na terapia comportamental cognitiva, eles usam o exemplo da cebola: existem várias camadas que a pessoa pode trazer como fatores, porém a gente tem que chegar no centro da cebola, que é a questão principal. Isso só será possível na psicoterapia, por isso é difícil a psicoterapia ser breve, e é lá que a gente vai achar a grande questão a ser resolvida”, Fábio diz.

Além disso, ele acrescenta que a depressão é causada por uma combinação de fatores, tanto genéticos, quanto biológicos, ambientais e psicológicos.

O psicólogo fala que tanto a depressão quanto a tristeza não vão durar para sempre. Mas ele descreve que, geralmente, a tristeza tem uma duração mais curta – como falado acima, o mais comum é a pessoa deixar de ficar triste quando o motivo que gerou o sentimento for resolvido.

“A depressão é algo que está lá mais constante, mas eu posso ter dias bons. Por exemplo, consegui um novo emprego e estou feliz, aquilo me deu um motivo, mas não curou minha depressão. O motivo da depressão não foi curado, mas vai deixar a pessoa feliz naquele dia ou semanas”, Fábio exemplifica.

Existe um parâmetro que considera que quando a tristeza ultrapassa o período de 15 dias, é provável que a pessoa esteja com depressão. Apesar de ser uma característica que ajuda a identificar o que está acontecendo, Fábio aconselha que  esse critério não seja visto com tanta rigidez. Isso acontece porque, algumas situações, podem fazer com que a duração da tristeza seja mais longa.

“Se a tristeza é porque eu briguei com alguém, estou com uma dívida, porque eu não tenho comida para botar para os meus filhos, não estou conseguindo fazer algo que fazia antes, por conta da pandemia, isso vai gerar uma tristeza prolongada. Pode levar a uma depressão? Até pode, porque vai desencadear outros fatores. Mas o motivo da tristeza por si só ter durado duas semanas, não quer dizer que é depressão”, ele reforça.

Fábio diferencia que, na tristeza, o sentimento não toma conta do pensamento, isso permite que a pessoa consiga produzir, realizar as atividades diárias e, mesmo que precise ser convencida, sair. Já uma pessoa com depressão, ela não consegue ter produtividade e nem realizar coisas que antes gostava de fazer.

“A intensidade, na tristeza, é um algo normal e conhecido por muitas pessoas. Isso acaba levando ao preconceito que muitas pessoas têm ao acharem que depressão é frescura. Porque esses indivíduos que não têm depressão, imaginam que o que o outro está sentindo não é depressão e sim uma tristeza, e tristeza é mais fácil de ‘sacudir a poeira’”, ele explica.

Por outro lado, o psicólogo afirma que atualmente há muitos depressivos funcionais e considera que essa é uma situação bastante importante. Nesses casos, a pessoa se encaixa em mais de um parâmetro, isto é, tem depressão, mas levanta, não fica na cama, não deixa de tomar banho e é produtiva.

“É aquele indivíduo que trabalha, que sorri, mas ele não demonstra os sentimentos e emoções. Então é funcional porque, para o capitalismo, ele está trabalhando e produzindo. Porém, sente um vazio gigante e aí que a gente vê os casos de suicídio. ”

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Diferença entre sintomas de tristeza e depressão

Os sintomas de tristeza podem variar de acordo com a causa, mas o mais comum é ficar mais recolhido, chorar e pode até envolver a perda de sono. 

“Mas não é algo diário, cotidiano, que acontece de hora em hora, que me desestabiliza. É algo que vem, mas vem quando eu lembro do motivo”, o especialista esclarece.

Sintoma de depressão. Homem deitado na cama com insônia

Já os sintomas de depressão costumam incluir:

  • Isolamento
  • Perda do prazer em realizar atividades que antes eram divertidas
  • Não reconhecimento de si
  • Aumento ou diminuição de apetite e
  • Alterações no sono

Fábio exemplifica que uma pessoa que gosta de cozinhar pode, de repente, deixa de sentir prazer e a vontade de cozinhar desaparece. Além disso, diferentemente de pessoas que estão tristes, que podem perder uma ou duas noites de sono, quem tem depressão, costuma ter essa alteração por um período prolongado por conta de alterações nas reações químicas do corpo.

Luto, tristeza e depressão

O luto é um processo que faz parte da vida, mas não é considerado um transtorno. Nessa situação de perda de alguém querido, é normal que a tristeza venha e, em alguns casos, quando esse processo não acontece de forma completa, esse sentimento pode se tornar um gatilho para depressão.

Em casos de mortes consideradas como “esperadas”, como idoso ou uma pessoa que está doente há um tempo, o processo do luto costuma levar cerca de um ano.

Pessoas tristes e enlutadas

“Eu não gosto muito de falar de tempo, mas, geralmente, é um ano, porque o primeiro ano é sempre o mais difícil. É o primeiro tudo sem a pessoa: o 1º aniversário; 1º aniversário da pessoa e o 1º Natal ou ano novo. No luto, você sofre a cada mês, a cada data, até completar um ano da morte, momento em que todo aquele sentimento e aquela tristeza voltam, e você sente tudo aquilo de novo”, Fábio diz.

Ele fala que a partir desse momento, a pessoa não vai superar o luto, mas vai se fortalecer dessa dor e passar a amadurecer a ideia de conseguir viver sem aquele que morreu. Se esse fortalecimento e amadurecimento não acontecerem, é aí que a depressão pós-luto pode aparecer.

“Para conseguir superar isso, a pessoa precisa conseguir ressignificar”, o psicólogo orienta.

Como passar pelo luto?

A melhor forma de enfrentar o luto – ou ajudar alguém que está passando por esse momento – é estar próximo a outras pessoas queridas. Assim, há uma menor chance dessa tristeza virar um gatilho para a depressão.

Fábio aconselha que o ideal é estar perto de pessoas que ofereçam apoio genuíno, ou seja, que escutem, sejam um ombro para chorar e ofereçam palavras reconfortantes. 

Pessoa superando a depressão do luto

No caso de pessoas que conhecem alguém que está de luto, o psicólogo sugere que “vá lá e leve uma sobremesa, uma flor, um bolo para o café da tarde, para estar junto, ser companhia. Não ficar falando como a pessoa deve ou não se sentir, ‘não chora, não fica assim’, é deixar a pessoa que está enlutada se expressar, é isso que ela precisa”.

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Tratamento para depressão

O tratamento deve ser realizado por, no mínimo, dois profissionais, sendo eles psicólogo e psiquiatra, e envolve, além da psicoterapia, o uso de medicamentos antidepressivos. 

“Lembrando que a medicação vai melhorar o sintoma, a causa é na psicoterapia. Então, muitos pacientes tendem a fugir da psicoterapia assim que o remédio começa a fazer efeito. Depois, fogem do psiquiatra, porque se sentem bem, acham que a vida voltou ao normal e param de tomar a medicação”, Fábio ressalta.

Tratamento para depressão

Ele acrescenta que, diferentemente do que se acredita, não é necessário tomar o remédio para sempre. Em média, o uso dura, aproximadamente, um ano após o ajuste da medicação ser acertado. Por exemplo, se o paciente iniciou o tratamento com uma dosagem inicial, mas ela não era adequada e foi aumentada e, a partir desse momento, a pessoa começou a se sentir bem. Após um ano, essa depressão tende a não voltar, a não ser que haja um gatilho futuro – claro, lembrando que as causas têm que ter sido tratadas na psicoterapia.

“No mínimo, para qualquer tratamento de depressão, tem que contar com dois profissionais de saúde mental reconhecidos pela Lei, Conselhos de Saúde, que são psiquiatra e psicólogo. Não existe essa de guru ou coach. Pode envolver outros profissionais da saúde que se especializaram em saúde mental, como terapia ocupacional, mas precisa ter esses dois. A última coisa que as pessoas recorrem é ao psicólogo, como se fosse coisa de doido. Isso mudou muito durante a pandemia, mas a Psiquiatria ainda é uma luta”, Fábio Gomes finaliza.

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