O câncer não espera – Diagnóstico durante a Covid-19
Última atualização em 29 de julho de 2021
Devido à pandemia do novo coronavírus, houve uma redução importante na quantidade de diagnóstico de câncer em relação a 2019. Entenda o porquê isso é perigoso
Por Natália Mancini
Cerca de 50 mil brasileiros deixaram de realizar seu diagnóstico de câncer durante os meses de março e maio devido à pandemia da Covid-19. Os dados são de uma pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e pela Sociedade Brasileira de Patologia (SBP). Para chegar a esse resultado, foi comparada a quantidade de diagnóstico realizada nesses meses em 2019 e em 2020.
Alexandre Ferreira Oliveira, cirurgião oncológico e presidente da SBCO, considera que essa queda brusca no diagnóstico de câncer aconteceu, principalmente, por conta do medo. Tanto dos pacientes de irem até o hospital, quanto de alguns médicos de pedirem a realização de certos testes.
“Os exames de rastreamento, como endoscopia e radiologia, estão sendo realizados dentro dos hospitais. Com isso, os pacientes têm medo de ir até esses locais. Outra questão é que muitos desses aparelhos são utilizados para fazer o diagnóstico radiológico de pacientes com Covid-19. Então, os médicos também ficaram com medo de pedir exames para fazer o diagnóstico precoce”, Alexandre explica.
Ele ainda leva em consideração os pacientes que já haviam terminado o tratamento, mas estavam fazendo consultas de acompanhamento. Ou seja, pessoas que poderiam ter uma recidiva diagnosticada, porém não retornaram aos seus médicos.
Apesar de ser necessário seguir corretamente as medidas de prevenção contra o coronavírus, é preciso analisar a situação com racionalidade.
“Alguns hospitais estão sobrecarregados, mas não podemos falar que, de maneira geral, o Brasil inteiro está assim. Isso acontece porque existe uma demanda variável em relação à pandemia de acordo com a região do país”, ressalta Alexandre.
Qual o perigo na queda da quantidade de diagnóstico de câncer?
“O maior perigo é o paciente perder a chance de cura”, acredita o presidente da SBCO.
Não realizar o diagnóstico de forma rápida, pode fazer com que o estágio do câncer avance. Então, um tumor que poderia ser identificado na fase I, por exemplo, pode progredir, aumentando de tamanho. Dessa forma o prognóstico seria menos favorável e o tratamento mais complexo.
“Uma cirurgia que era relativamente pequena, pode evoluir para uma cirurgia mutilante. A razão disso é a realização do diagnóstico do câncer em fase mais avançada”, Alexandre alerta.
Outro perigo está no acúmulo de casos após a pandemia, já que as pessoas estão esperando a situação amenizar para procurar seus médicos. Com isso, o sistema de saúde, que antes da covid-19 já tinha recursos limitados, pode ficar debilitado. Consequentemente, não conseguindo suportar a demanda.
Por isso, é importante que no caso de sintomas de câncer, um profissional médico seja procurado.
“Os sintomas mais comuns são dor, nódulos de crescimento rápido, sangramentos, anemia, redução da força muscular, anorexia. Além de dificuldade de comer, perda do estímulo de fazer as coisas”, o cirurgião informa.
Ele avisa, entretanto, para tomar cuidado em não confundir esses sintomas com alguns processos depressivos que podem se instalar devido à pandemia. Para evitar misturar os sinais, veja aqui quais os principais sintomas de câncer.
A telemedicina pode ser uma grande aliada nesse momento, uma vez que, por meio dela, podem ser fornecidas algumas orientações. Por exemplo, a necessidade e urgência de realizar algum exame. Já no caso de pacientes oncológicos, a teleconsulta pode ser utilizada para fazer o acompanhamento de exames já realizados.
“A telemedicina pode ajudar as pessoas, principalmente em um primeiro atendimento. Ela tem suas limitações, mas pode muito bem orientar as pessoas e fazer um controle”, diz Alexandre.
Papel dos hospitais no diagnóstico de câncer
É dever dos hospitais criar vias livres de Covid-19, ou seja, áreas e estruturas destinadas, exclusivamente, ao atendimento de pacientes sem sintomas da infecção. Para que, assim, todos possam ter acesso aos centros de tratamento.
O ideal é que essa via livre se inicie desde o nível básico, como em unidades de pronto atendimento. Recomenda-se que existam alguns postos somente para pacientes com sintomas relacionados ao novo coronavírus e outros para sintomas em geral.
Outra orientação seria a existência de clínicas especializadas em doenças de baixa complexidade e realização de exames, focadas no atendimento ambulatorial. O objetivo é diminuir o número de internações.
É essencial também que existam hospitais exclusivos para casos de alta complexidade. Como é o caso das doenças oncológicas, cardiovasculares agudas e obstetrícia.
Caso não seja possível isolar totalmente as estruturas, orienta-se organizar vias distintas dentro da própria clínica. Ou seja, áreas pelas quais os pacientes com suspeita ou confirmação de coronavírus possam circular e áreas “livres de vírus”.
“Para isso, é preciso ter toda uma mobilização da classe médica. Não só da classe que vai tratar, mas da classe que vai diagnosticar esses pacientes”, o presidente da SBCO afirma.
Ele julga que é preciso garantir que os pacientes consigam realizar os exames o mais rápido possível, independente da pandemia. Assim, ter esses locais seguros poderia, juntamente com o trabalho de incentivo de sociedades e associações médicas, desconstruir o medo dos pacientes. Dessa forma, fazendo com que o diagnóstico de câncer continue sendo realizado.
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