O estresse pode causar um câncer?
Última atualização em 29 de julho de 2021
Estudos mostram que apesar de não ser considerado um fator de risco, essa reação física pode estar relacionada com um pior prognóstico do câncer
Há dois tipos de estresse. O estresse que ocorre no cotidiano e que, em alguns casos, pode ser considerado como eustresse, pois motiva a pessoa a se superar e agir para tentar resolver uma situação. Esses casos apresentam uma menos probabilidade de causar uma exaustão e não influenciam na evolução do câncer. Por outro lado, o chamado distresse, acontece quando situações estressantes se prolongam por mais tempo e a pessoa tem dificuldade de lidar com elas, causando a exaustão.
Nos dois casos há uma dilatação dos vasos sanguíneos, fazendo com que o coração tenha que bater mais rápido. A diferença está no fato que no estresse “bom”, essa reação passa quando o fator estressor acaba. Entretanto, no ruim, o fator estressor não vai embora, ele se torna crônico, fazendo com que o corpo trabalhe constantemente sobre pressão, causando a exaustão.
“O eustresse nos coloca numa reação mais ativa de enfrentamento. Por exemplo, eu vou participar de um campeonato, vou treinar para ele e estou agitado para fazer aquele treino. É considerado um estresse produtivo”, exemplifica a Drª. Juciléia Souza, psicóloga especialista em Oncologia e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia.
Já no estresse ruim, é como se um carro do cotidiano fosse turbinado e transformado em um carro de corrida. Dessa forma, ele sofrerá uma pressão muito maior para aguentar o estresse da corrida e, consequentemente, terá uma menor durabilidade. Podendo fazer com que esse desgaste dure por muito tempo, ou seja, se torne crônico.
De acordo com um estudo publicado na Revista Nature, esse distresse crônico estaria relacionado com um pior prognóstico do câncer.
Qual a relação entre estresse e câncer?
A Drª. Juciléia diz que uma das consequências do estresse já conhecidas é o fato do distresse afetar o sistema linfático. Isso acontece porque essa reação faz com que o corpo libere uma série de hormônios, afetando o funcionamento do organismo. Por exemplo, é comum pessoas muito estressadas ficarem mais doentes, porque o sistema imunológico, que trabalha junto com o linfático, está enfraquecido.
Porém, além disso, o estudo publicado na Nature identificou que a dilatação dos vasos linfáticos, causada pelo estresse, é um mecanismo facilitador para a disseminação das células cancerosas.
“O próprio tumor possui vasos linfáticos e eles também sofrem dilatação por conta do estresse. Assim, favorece que a célula cancerosa caia no sistema linfático, percorrendo o organismo e formando uma metástase. Além de também facilitar o crescimento do tumor na própria região de origem”, explica a especialista.
Por isso, o estresse não é considerado um fator de risco para o aparecimento do câncer, não há uma causalidade. Mas sim, um fator que pode causar uma progressão da doença.
De acordo com a Drª. Juciléia, a única forma do estresse estar relacionado com o aparecimento do câncer é devido aos maus hábitos que ele pode influenciar. Por exemplo, quando uma pessoa está nervosa, ela tem uma maior probabilidade de fumar, ter maus hábitos alimentares etc.
“Então, o estresse, para fazer com que o câncer apareça, ele tem que ter um intermediário. Além da própria predisposição genética do indivíduo. O estresse por si só, não causa um câncer, mas sim pode piorar o prognóstico”, diz ela.
O estudo publicado conseguiu chegar a essa conclusão porque excluiu todos os outros fatores de risco e estudou somente a ação do distresse nos indivíduos analisados, que, no caso, eram ratos.
O estresse que eu já passei pode causar câncer?
O mais relevante não é a situação em si, mas sim como o indivíduo lida com ela. Então, a situação estressante precisa ser marcante por si só ou então aquela pessoa enxergar o ocorrido como algo marcante.
Se a situação estressante já estiver resolvida, não influenciará na progressão da doença. Isto é, mesmo que a pessoa tenha passado por muitas dificuldades durante sua vida, se elas já tiverem acabado, não afetarão no crescimento nem na possibilidade de metástase do tumor.
Isso acontece porque a ligação entre o distresse e o câncer tem a ver com a vasodilatação e ela só está presente enquanto o estresse estiver presente. Dessa forma, quando a tensão acaba, os vasos voltam ao normal e as células cancerosas perdem a facilidade de caírem no sistema linfático.
“Entretanto, pessoas que tiveram algo no passado e continuam tendo uma reação de estresse ao longo do tratamento, podem ter uma piora no prognóstico”, conta a Drª. Juciléia.
Sendo que a mesma situação pode ter impactos diferentes dependendo das características individuais. Por exemplo, a perda de uma emprego. A primeira pessoa fica estressada, mas se adapta àquele momento, passa a procurar um novo trabalho e o estresse acabou. Porém, a segunda, por conta das suas experiências passadas, considera essa situação muito ameaçadora ou se julga incapaz de resolvê-la. Dessa forma, ela passa a se isolar, perde a confiança em si mesma e o estresse se cronifica.
“Para pensarmos em cronicidade, temos que pensar na forma como o indivíduo reage ao longo do tempo a esse estressor. Então, juntar a característica do fator estressor e a característica do indivíduo”, a psicóloga explica.
Por outro lado, o estresse do cotidiano é considerado como eustresse, pois desafiam e motivam a pessoa a se superar. E não causam uma exaustão. Assim, não influencia na evolução do câncer.
O estresse causa quais tipos de câncer?
Como a maior facilidade da célula cancerosa se disseminar está ligada com o sistema linfático, os tumores com uma relação mais direta com esse sistema são os mais afetados.
O principal seria o linfoma, porque ele acontece no próprio sistema linfático, juntamente com o câncer de mama e próstata.
“Há uma maior chance de que isso aconteça nos tumores que tiverem uma vinculação com o sistema linfático. Devido ao estresse, há essa dilatação nos vasos e aumento do fluxo dentro deles. Favorecendo, dessa forma, que a células se soltem e entrem no sistema linfático, levando para metástases”, a Drª. Juciléia ressalta.
Como lidar com o estresse e evitar que ele impacte no câncer?
“Eu sou muito favorável que indivíduos com um elevado risco, que são mais vulneráveis a desenvolverem distrresse, sejam identificadas o quanto antes e procurem ajuda desde o diagnóstico. Seja com práticas de mindfullness, relaxamento, meditação e esportes que favoreçam algum tipo de alívio, mas principalmente, ajuda psicológica. Assim, é possível trabalhar com essa pessoa a forma como ela reage, lida e avalia as situações. Além de ressignificar contextos e aprender a lidar com algumas ocasiões estressoras”, orienta a especialista.
Na maioria dos casos, a pessoa que entra no distresse crônico tem a tendência a achar a situação muito ameaçadora ou achar que não consegue lidar com aquilo devido à sua história de vida. Por isso, é muito importante trabalhar para se conhecer, controlar as próprias reações e se fortalecer.
É possível até que o próprio diagnóstico de câncer seja um gatilho para o estresse crônico. Por isso, é importante que tanto no centro de tratamento, quanto a família do paciente fique atenta às reações dele. Caso perceba-se que ele está vulnerável, indicar um acompanhamento para que a situação seja enfrentada da melhor forma possível.
Outra recomendação da Drª. Juciléia é utilizar fé e a espiritualidade como ferramenta nesse momento, desde que não seja com culpabilização.
“Acima de tudo, aceitar suporte social e aceitar amor dos outros. Afinal se tem amor vindo, é porque foi plantado e tem que ser colhido. Não é para enfrentar o câncer sozinho, não tem como dar conta de tudo sozinho. É como querer carregar uma grande pedra. Quando juntam várias pessoas, todos carregam juntos, fazendo menos esforço e ficando menos dolorido”, finaliza a Drª. Juciléia Souza.
Quando câncer e depressão aparecem juntos
Sentir medo de ter câncer é coisa do passado
Oportuna a matéria!
Uma doença que ainda assola muitos…
Conheço gente que tem e se foi com a PORCARIA (como chamo CÂNCER).
Onde acho que ao se passar por uma situação péssima se possa ter. Familiares meus após enfrentarem coisas do tipo tiveram.
Onde ainda a melhor forma de PREVENIR; evitar vícios – ADERIR A VIRTUDES.
Ainda vale à pena.
Rodrigo, obrigada pelo carinho! Lembrando que precisamos quebrar o tabu sobre falar a respeito do câncer 😉
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