Trate a leucemia, mas previna o câncer de mama
Última atualização em 29 de julho de 2021
Fazer o autoexame é extremamente importante para todas as pessoas, inclusive para você, paciente de linfoma ou leucemia
Por Natália Mancini
Mesmo que você já tenha enfrentado – ou esteja enfrentando – um câncer de sangue, é preciso ficar de olho no câncer de mama. De acordo com dados do INCA, esse tipo de câncer é um dos que mais afetam as brasileiras. Porém, isso não é uma doença exclusiva delas, os homens também podem ser acometidos. Para 2019, foram estimados mais de 59 mil novos casos, dessa forma, conhecer essa doença, seus fatores de risco, sintomas e tratamentos tem se tornado cada vez mais essencial.
Esse tipo de câncer acontece quando as células da mama passam a crescer de maneira desordenada e rápida, causando o aparecimento de um ou mais nódulos. A Drª. Maria Laloni, oncologista e coordenadora do centro de Oncologia do Hospital 9 de Julho, diz que as as glândulas mamárias são as células que estão mais relacionadas com o desenvolvimento do tumor. Mas, qualquer célula que compõe a mama pode sofrer uma mutação e desenvolver a neoplasia.
Ligação do câncer de mama com os cânceres hematológicos
A oncologista lembra que alguns pacientes que tiveram linfoma ou leucemia podem ter maior propensão a desenvolver câncer de mama. Esse risco maior acontece desde que a pessoa tenha recebido altas doses de radioterapia na área mamária ou algumas outras medicações.
“Isso pode acontecer sim, é um risco que deve ser monitorado ao longo do tempo. Entretanto, hoje, com técnicas mais modernas de radioterapia e tratamentos mais eficazes para leucemia e linfoma, esse quadro é mais raro”, conta a Drª. Maria.
Sintomas do câncer de mama
A médica conta que esse câncer, enquanto está em fase inicial, é silencioso. Ou seja, ele não apresenta sintomas. Os sinais só passam a aparecer quando o nódulo cresce e evolui.
“O crescimento da lesão pode provocar a assimetria da mama e descarga papilar – líquido ou sangue expelidos pelo mamilo. Também pode provocar uma retração ou abaulamento da mama, deixando o local com aspecto de casca de laranja”, explica a especialista.
Ela ainda ressalta que realizar o autoexame é importante para a pessoa ficar atenta a qualquer alteração do corpo. Entretanto, dependendo do tamanho do nódulo e da mama esse exame pode não ser eficiente, já que não seria possível perceber o câncer em fase inicial. Por isso, o autoexame deve estar sempre associado à visitas periódicas ao ginecologista para avaliação com exames de imagem.
“A ausência dos exames de imagem e do exame médico pode fazer com que, no auto-exame, detectemos uma lesão em um tamanho grande. Sendo que o ideal é fazermos o diagnóstico precoce de lesões pequenas”, diz a Dra. Maria.
Se durante os exames de imagem alguma suspeita for identificada, o médico pode sugerir uma biópsia para analisar as células. O resultado da biópsia vai confirmar ou não o diagnóstico do câncer de mama.
Estadiamento do câncer de mama:
O estadiamento determina em qual fase uma doença está. No caso do câncer, o estadiamento mostra o quanto a doença já se espalhou pelo corpo e onde está localizada.
Para esse tipo de câncer, são utilizados números de 0 a 4, em algarismos romanos, acompanhados da letra A, B ou C.
No estágio 0, o tumor está apenas nos ductos e/ou lóbulos da mama.
Já o IA, o tumor tem até 2 cm e não se espalhou para os linfonodos. Enquanto que no IB, o nódulo também tem até 2 cm, mas se espalhou para um linfonodo de forma pequena.
No IIA, o câncer tem até 2 cm e se espalhou para os linfonodos axilares de maneira um pouco maior. Ou então, o nódulo tem de 2 a 5 cm e não está nos linfonodos axilares.
Enquanto que no IIB, o câncer possui de 2 a 5 cm e se disseminou para até três linfonodos axilares. Ou tem mais que 5 cm mas não se disseminou.
Considera-se IIIA, quando a lesão mede até 5 cm e se espalhou para quatro a nove linfonodos, mas não para outras partes do corpo. Ou quando tem mais de 5 cm e disseminou para até três linfonodos axilares.
No IIIB, o tumor está também na parede torácica, causando inchaço ou ulceração da mama. Pode ou não estar nos linfonodos axilares, mas não no resto do corpo.
IIIC o tumor pode ter qualquer tamanho, mas se espalhou para 10 ou mais linfonodos axilares ou outro aglomerado de linfonodos. Porém não está distante da mama.
Estadio IV (metastático), o tumor pode ter qualquer tamanho, mas se disseminou para outros órgãos (ossos, pulmões, cérebro ou fígado).
Qual o tratamento do câncer de mama?
A Drª. Maria conta que existem diversos pilares para o tratamento do câncer de mama.
A radioterapia é uma opção para casos em que o câncer não está espalhado. O objetivo desse tratamento é controlar e diminuir o risco de recidivas locais.
Caso a doença tenha se espalhado para outras partes do corpo, pode ser utilizada a quimioterapia ou, para alguns casos com características específicas, o bloqueio hormonal. Além dos bloqueadores de HER2, uma proteína que faz com que as células se proliferem descontroladamente, para os cânceres com essa mutação.
Recentemente, a imunoterapia, uma droga que reativa o nosso sistema imunológico para combater as células doentes, também passou a ser usada como protocolo de tratamento. “Entretanto, até o momento, essa terapia só está indicada para pacientes com câncer de mama triplo negativo”, explica a oncologista.
Outro pilar é a cirurgia que apresenta um caráter curativo importante quando a doença está localizada só na mama. Pode ser realizada uma mastectomia, remoção total, ou uma cirurgia conservadora, retirada de parte da mama.
“A mastectomia é indicada quando o paciente não tem condições de fazer uma cirurgia conservadora do ponto de vista oncológico. Ou seja, não é possível tirar a lesão com uma margem de segurança. Enquanto que a extensão da cirurgia conservadora vai depender do tamanho do tumor e versus tamanho da mama”, explica a Drª.
Ainda de acordo com ela, os homens com câncer de mama são submetidos ao mesmo tipo de tratamento. Porém como eles possuem menos tecido mamário, a doença pode ter um caráter mais agressivo.
Quais pacientes podem fazer a reconstrução mamária?
Para a reconstrução mamária ser indicada depende da avaliação técnica do médico para saber qual a condição do tecido mamário.
Algumas pacientes não têm tecido suficiente, ou seja, não têm pele para fazer uma reconstrução logo após a mastectomia. Dessa forma, é preciso expandir a pele para tornar a reconstrução viável.
“Então elas colocam um expansor, que vai ser insuflado progressivamente para que a pele distenda e a reconstrução seja possível. Caso essa técnica não possa ser realizada, fazemos a rotação de retalho. Isto é, tiramos pele de outros lugares para conseguir fazer a reconstrução daquele tecido”, esclarece a Drª. Maria.
Há também a possibilidade da paciente só poder fazer a reconstrução após um tempo da cirurgia. Normalmente, quando isso acontece, a reconstrução é realizada após o tratamento complementar com quimioterapia ou radioterapia. Essa técnica permite que o aspecto estético final da reconstrução seja melhor.
Caso tenha sido necessário retirar a aréola e o mamilo, a paciente pode fazer a reconstrução, ou cobertura da cicatriz, por meio da micro-pigmentação ou de tatuagem.
Fatores de risco para o câncer de mama
Os principais fatores de risco para essa doença são: obesidade, sedentarismo, dieta inadequada, tabagismo e, em menor proporção, predisposição genética.
“Os fatores ambientais são os fatores que mais impactam no desenvolvimento de um câncer de mama. E eles são aqueles que conseguimos e devemos combater com mudança de hábitos” alerta a Drª.
Apenas 15% dos cânceres de mama acontecem por fatores genéticos. Isto é, a minoria das pacientes tem herança hereditária de alguma mutação genética que aumenta o risco do desenvolvimento da doença.
Teste genético para câncer de mama
O teste genético descobre alguma alteração genética hereditária e se essa mutação pode aumentar o risco de ter câncer.
Ele é recomendado quando existe um histórico familiar sugerindo que o paciente possui um risco.
“Então é muito importante uma avaliação genética do paciente contando com todo o histórico familiar. Inclusive, algumas neoplasias que podem ter relação com o câncer de mama devem ser estudadas. Como o câncer de ovário e pâncreas, para avaliar se aquele paciente tem indicação de fazer o teste genético”, a Drª. exemplifica.
Esse teste não é feito como uma forma de prevenção, mas sim como um mapeamento de risco. Uma vez identificada a mutação, existem algumas recomendações para diminuir o risco do desenvolvimento de um câncer. Por exemplo, retirar a mama para reduzir a quantidade de tecido e consequentemente o risco do câncer.
“Para pacientes com menos de 40 anos e que já tiveram diagnóstico de câncer de mama, o teste genético também está recomendado. Ele pode verificar o risco de um novo câncer ou de tumores relacionados às mesmas alterações genéticas. Por exemplo, tumor de ovário. Ou ainda, caso identificado o risco do câncer de ovário, fazemos a retirada dos ovários após a mulher ter filhos e completar mais de 40 anos”, finaliza a Drª. Maria.
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