Síndrome de Down e leucemia de mãos dadas
Última atualização em 29 de julho de 2021
Crianças com esta condição genética tem até dez vezes mais chances de desenvolver câncer
Por Natalia Mancini
O corpo humano possui 46 cromossomos, sendo que 23 vem do pai e 23 vem da mãe. Na hora da concepção, os cromossomos do pai encontram os cromossomos da mãe, formando pares.
A Síndrome de Down acontece quando o par de cromossomo número 21 fica, na verdade, com três cromossomos em vez de dois, podendo ser também chamada por trissomia do 21.
Essas pessoas, apesar de serem capazes de levar uma vida muito próxima do considerado normal, apresentam algumas características específicas, como olhos amendoados, céu da boca mais encurvado, frouxidão muscular, dificuldade de aprendizado, sistema imunológico um pouco mais fraco e uma maior tendência a desenvolver câncer, mais especificamente a leucemia.
Isso acontece porque 1 a cada 150 crianças com a Síndrome de Down desenvolve problemas na produção dos glóbulos brancos, as células responsáveis por combater vírus e bactérias no organismo.
“Além de uma série de outros problemas clínicos que podem apresentar, elas têm um risco aumentado de desenvolvimento das leucemias agudas”, explica o Dr. Vicente Odone, especialista em leucemia infantil do Itaci e membro do Comitê Médico da Abrale.
Nos primeiros três anos de vida, a leucemia mielóide aguda (LMA) é a forma mais comum. Depois, aproximadamente 80% dos casos são de leucemia linfocítica (LLA).
“A LMA do tipo M7 pode ser tão prevalente, que se o bebê já nascer com este subtipo da doença, será necessária uma investigação para a Down”, fala o Dr. Odone.
Claro, existe a possibilidade de recém-nascidos desenvolverem a LMA M7 e não possuir a condição da Síndrome, mas é bem raro. Outra situação possível de acontecer, segundo o Dr. Vicente, é o chamado quadro hiperplásico transitório, no qual o bebê desenvolve sintomas muito parecidos com uma leucemia, como a hiperleucocitose, porém eles regridem espontaneamente, não precisando de tratamento.
Sinais da LMA na Síndrome de Down
Os sintomas que surgem são aqueles comuns a todos, independentemente da Síndrome de Down: febre constante, sangramentos e hematomas espontâneos, cansaço, fraqueza, palidez e dores ósseas.
E foram alguns destes sinais que fizeram Maria Marta Conceição, mãe de Adriano Conceição, 2 anos e 11 meses, desconfiar que algo estava errado com seu filho.
“Notei uma situação diferente nos olhos dele. Começou a aparecer algo branco e a noite ele passou a queimar de febre. Ele tinha quase dois anos e tinha uma saúde perfeita. Mas quando levamos ao médico e fizemos uma bateria de exames, veio o resultado. Meu filho tinha uma LMA”, comenta Maria Marta.
Descobrir o quanto antes a leucemia é fundamental para os bons resultados no tratamento e o diagnóstico pode vir a partir de um simples exame de sangue. Após notar as alterações celulares, o especialista pedirá um mielograma ou uma biópsia da medula.
Boas notícias
As crianças, em um geral, têm respostas extremamente favoráveis ao tratamento, sendo raros os casos indicados para o transplante de medula óssea (TMO). “Normalmente elas são tratadas com quimioterapia e apresentam resultados excelentes”, diz o Dr. Odone.
E, para aquelas que nascem com a Síndrome de Down, as respostas são ainda melhores a tal ponto que ao serem analisados os resultados de sobrevida e cura de LMA, essas crianças “devem ser excluídas dessas análises, pois elas falseiam o resultado para cima tamanha a condição de resposta que elas apresentam”, explica o Dr. Vicente.
E um grande exemplo é a remissão de Adriano. “A descoberta da leucemia foi um momento difícil para todos. Ele sentia muito enjoo, não tinha vontade de comer. Mas graças a Deus o tratamento foi muito bem no geral. Atualmente, ele faz acompanhamento médico a cada dois meses”, conta Maria Marta.
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