Enfrentando o tsunami de emoções
Última atualização em 29 de julho de 2021
A forma como cada um lida com o diagnóstico de câncer é muito pessoal, mas preparar uma rotina adequada de vida para antes, durante e depois do tratamento está ao alcance de todos
Lutar contra uma doença pode ser um processo longo e doloroso. Quando essa doença é o câncer, a luta costuma ser ainda mais intensa, tanto pelo estigma que a doença carrega em nossa sociedade, como pelo medo que as pessoas têm em receber o diagnóstico.
No entanto, desde o momento do diagnóstico, algumas medidas podem amenizar o turbilhão de emoções provocado pelo choque inicial, quando sentimentos como raiva, tristeza, ansiedade, agressividade e culpa costumam vir à tona.
A forma como cada um lida com o diagnóstico é muito pessoal e depende do estado emocional do paciente, de seu contexto de vida e de sua experiência anterior ao câncer.
Porém, comum a todos os casos é a mudança que a notícia acarreta na vida do paciente. “O diagnóstico de câncer desestrutura o emocional e o dia a dia. O jeito mais eficiente de entender essa nova estrutura é começando pelo que diz respeito à própria doença”, explica Marília Othero, coordenadora de Terapia Ocupacional da Abrale.
De uma hora para outra, a rotina de exames, consultas médicas e medicamentos invade a vida do paciente. Porém, algumas atitudes podem ajudar a organizar a rotina de vida antes, durante e após o tratamento. Tal organização pode esclarecer dúvidas e minorar angústias, o que auxiliará o paciente no aspecto emocional.
A Revista Abrale On-line separou algumas dicas importantes que irão te ajudar a enfrentar com esperança os três diferentes períodos.
ANTES DO TRATAMENTO
Procurar informações sobre o tipo de câncer que foi diagnosticado. As organizações não governamentais e instituições de apoio aos pacientes e câncer podem ajudar com informações sobre a doença.
Anotar dúvidas. É importante anotar todas as dúvidas em relação à doença e às opções de tratamento para conversar com o médico. “Ter as dúvidas anotadas auxilia durante a consulta, pois são muitas informações novas para serem assimiladas em pouco tempo. Anotar garante que todas sejam abordadas”, observa Marília Othero.
Entrevistar os médicos. Além das dúvidas gerais sobre o câncer, uma “entrevista” com médicos e profissionais da saúde pode lhe dar mais confiança e ajudar a sanar questões pendentes sobre o tratamento. Não se acanhe em fazer perguntas como “Qual a sua experiência com o meu tipo de câncer”, ou “Você costuma aconselhar terapias alternativas e complementares para pacientes de câncer?”
É interessante uma reflexão sobre com quem pode contar nessa fase inicial do tratamento. Há amigos e parentes que, pelo jeito de ser, podem ajudar mais que outros. Observando seu círculo social, você identifica tais pessoas.
Determinar seus hobbies e prioridades também é uma forma de “montar” sua rotina, adaptando-a ao tratamento que está por vir. Em qual situação você se sente mais relaxado? Qual atividade lhe dá prazer? Há algum objeto que remeta à sua casa, para você leva-lo ao hospital? Que pessoas o fazem se sentir mais otimista?
Se necessário, organize uma lista com seus afazeres domésticos e profissionais. Provavelmente, durante o tratamento, você passará mais tempo fora de casa, de seu escritório ou empresa. Preparar alguém que ajude a manter sua casa em ordem e seu trabalho caminhando é imprescindível.
DURANTE O TRATAMENTO
Guardar todos os exames juntos. “É comum os pacientes andarem com suas “pastinhas”. É importante que todos os exames fiquem reunidos, para que os médicos tenham um histórico da saúde do paciente”, pondera Marília.
A pasta deve conter informações sobre medicamentos, receitas, exames, datas de utilização e até recortes de jornais e revistas que possam conter informações usadas ou sugeridas para seu tipo de câncer.
Manejar o sentimento de mudança e perda. É comum durante o tratamento de câncer que esses sentimentos se confundam. Saber se você está respondendo ao conforto e apoio fornecidos pelas pessoas ao seu redor, se consegue expressar sentimentos é um meio do organizar sua vida emocional.
Certificar-se de que as etapas do tratamento estão sendo discutidas com a equipe médica, familiares e amigos. “A comunicação é um processo. Algumas notícias e procedimentos complexos devem ser mais bem esclarecidos”, pondera Marília.
Registrar a sua trajetória em vídeos ou fotos, pelas redes sociais, também são formas de entender o processo pelo qual você está passando. Não importa o meio.
Muito tempo pode se passar entre as idas ao hospital ou as consultas médicas. Nesse período, é importante anotar alterações físicas, emocionais ou a presença de sintomas e efeitos colaterais.
DEPOIS DO TRATAMENTO
Se você iniciou algum tipo de terapia durante o tratamento, é interessante continuar após seu término. O medo da recidiva costuma vir quando acabam as sessões de quimioterapia e radioterapia. Conversar com as pessoas que estiveram ao seu lado durante esse processo é fundamental.
A volta ao convívio após o tratamento de câncer exige a adaptação para uma vida com certas limitações. Aceitar essas mudanças e aproveitar a sensação de vitória são etapas importantes, tanto na vida pessoal, quanto na profissional.
Planejar é necessário, em toda e qualquer fase da vida. “Continuar traçando planos, sejam eles pessoais ou profissionais, é aceitar que a vida continua, mesmo após o tsunami de sentimentos que o câncer traz”, finaliza Marília.
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