Quem tem câncer pode extrair dente?
Última atualização em 28 de julho de 2021
Nem sempre! Mas o ideal é que, ao começar o tratamento oncológico, o paciente esteja com a saúde bucal em dia
Em algumas situações, quem tem câncer pode extrair dente sim. Entretanto, em outros casos (ou momentos do tratamento) o oncologista pode não autorizar o paciente. As principais preocupações envolvem o risco de infecção, possíveis sangramentos excessivos e capacidade de cicatrização. Por isso, é preciso passar por uma avaliação anterior ao procedimento e, após sua realização, ter uma série de cuidados.
Os principais motivos para fazer a extração de dente são: a cárie dental avançada, que prejudica as estruturas nobres do dente, como a raíz; doenças periodontais também avançadas, levando o comprometimento do tecido gengival e osso que sustenta os dentes; canal dos dentes que não responde ao tratamento odontológico; dentes com indicações de extração por razões ortodônticas ou protéticas e traumas dentais que fraturam as raízes.
Wolnei Pereira, coordenador do Comitê de Odontologia da Abrale, esclarece que para poder extrair um dente o paciente precisa estar dentro de certos critérios clínicos e laboratoriais e acompanhamento do onco-hematologista.
“Isso acontece porque, em certas condições oncológicas, a resposta imunológica do paciente estará comprometida. Podendo ser devido à neoplasia por si só, ou pelo protocolo de tratamento proposto, quimio ou radioterapia ou associação de ambos”, diz.
Ele complementa ressaltando que, na verdade, deve-se evitar todo procedimento invasivo, ou seja, que inclui cortes nos tecidos a partir do início do tratamento oncológico. No caso das pessoas que realizam quimioterapia, a orientação é não realizar nenhuma intervenção cirúrgica no período NADIR. Nesse período, que acontece a partir do 10º dia após a infusão, há uma queda no número das células sanguíneas. Dessa forma, a defesa do corpo, a coagulação do sangue e o transporte de oxigênio ficam prejudicados e a recuperação pode ser mais complicada.
Riscos de extrair um dente
Um dos perigos é a chance de uma infecção local se tornar generalizada, devido à baixa quantidade de células, mencionada acima. Isso ocorre, principalmente, em pacientes tratados com quimioterapia. Outra questão preocupante é que a cicatrização, para os pacientes com câncer, pode não ocorrer conforme o esperado.
“A cicatrização tecidual pode ser afetada em pacientes que foram submetidos, principalmente, à radioterapia na região de cabeça e pescoço. Os efeitos colaterais da radioterapia são dose dependentes, ou seja, quanto maior a dose empregada e tempo de tratamento, maiores serão as sequelas”, Wolnei informa.
O motivo para isso acontecer é a diminuição da circulação sanguínea nos tecidos irradiados. Como consequência, há uma menor oxigenação da área e também uma menor quantidade e qualidade da saliva, que perde seu efeito antimicrobiano e de equilíbrio do ph bucal
“Portanto, o cirurgião dentista deve estar informado e ciente das condições do paciente, bem como do protocolo de tratamento. Ele também deverá ser capaz de interpretar os resultados laboratoriais de hemograma”, o especialista conta.
Cárie de radiação: entenda o que é e como evitar
Esse é um dos possíveis efeitos colaterais causados pela radioterapia. Porém, realizar exames pré-tratamento e cuidar da alimentação podem evitá-la. Leia mais sobre!
Quem tem câncer pode extrair dente?
Contanto que seja considerado seguro que o paciente faça o procedimento, sim! Para ter essa resposta, o primeiro passo é contar para o profissional, preferencialmente um dentista especialista em Oncologia, sobre o histórico de saúde. Em seguida, esse profissional avaliará qual a melhor opção de tratamento para aquele caso. A próxima etapa envolve uma conversa entre os médicos do paciente para que eles possam trocar informações.
“Provavelmente, o cirurgião dentista solicitará novos exames laboratoriais. Dependendo do caso, também prescreverá uma terapia profilática com antibiótico prévia à extração dentária”, complementa Wolnei.
Os cuidados após extração de dente incluem: repouso; higienização da ferida, conforme orientação, manter uma alimentação líquida ou pastosa nos primeiros dias e tomar a medicação de forma correta. Caso aconteça um sangramento excessivo ou qualquer outra eventualidade, é preciso avisar a equipe médica e o cirurgião dentista imediatamente.
Por outro lado, caso o paciente não seja autorizado a realizar o tratamento odontológico naquele momento, é preciso utilizar alguns métodos para que a situação não piore até que seja seguro fazer a extração.
Dependendo do caso, realiza-se uma intervenção terapêutica básica, ou seja, raspagem da raiz, profilaxia e polimento das coroas dentais. O paciente também pode precisar realizar bochechos de solução de clorexidina duas vezes ao dia. Mas, o principal é a higiene oral, que deve ser feita de acordo com a orientação e com escova de cerdas macias ou extra macias.
“No dente que deverá ser extraído, fazemos a remoção do tecido contaminado (cárie), limpeza e desinfecção inicial do canal radicular. Colocamos também um material restaurador provisório até o momento oportuno para a extração”, detalha o dentista.
Neutropenia e o perigo das infecções
Por afetar os glóbulos brancos do sangue, esse quadro faz com que o paciente oncológico esteja mais vulnerável a contrair bactérias e vírus. Leia mais sobre!
Extração de dente após o tratamento oncológico
A depender do tipo e duração da terapia utilizada, as orientações podem variar. Porém, recomenda-se que o prazo mínimo seja de um ano após o final do tratamento.
Em pacientes que foram submetidos à radioterapia, pode ser necessário ter um cuidado maior durante os três primeiros anos após o fim da terapia. Isso porque, existe uma condição chamada osteorradionecrose que pode se desenvolver e deixar o osso da mandíbula exposto.
Se a pessoa estiver utilizando medicamentos para evitar a diminuição da densidade óssea, os bifosfonatos, pode ser necessário suspender o uso para realizar o procedimento. Nessa situação, a suspensão deve ser feita poucos dias antes do procedimento.
As recomendações pós-operatórias são as mesmas.
“Dessa maneira, fica clara a importância do tratamento odontológico previamente ao tratamento antineoplásico. A extração de dentes, que são possíveis focos de infecção, e tratamento periodontal reduzirão o número de bactérias na cavidade bucal, diminuindo as chances de infecções agudas de origem dental que podem até suspender o tratamento de quimioterapia e radioterapia e colocar a vida do paciente sob risco”, aconselha Wolnei Santos Pereira.