Cárie de radiação: entenda o que é e como evitar
Última atualização em 29 de julho de 2021
Esse é um dos possíveis efeitos colaterais causados pela radioterapia. Porém, realizar exames pré-tratamento e cuidar da alimentação podem evitá-la
Wolnei Pereira, coordenador do Comitê de Odontologia da Abrale, explica que apenas pacientes que foram submetidos à radioterapia de cabeça e pescoço podem desenvolver esse efeito colateral. Além disso, diferentemente da cárie comum, esse tipo aparece dependendo da dose utilizada no tratamento oncológico.
“O surgimento da cárie como efeito colateral depende da dose da radiação aplicada. Sendo que, acima de 45 Gy, há um aumento significativo na probabilidade do seu desenvolvimento. Por outro lado, a cárie comum ocorre pelo acúmulo de placa bacteriana sobre a superfície dental por muito tempo”.
A cárie de radiação se dá pela ação direta dos raios ionizantes no esmalte dentário e da dentina, gerando perda de minerais nos dentes. O esmalte é a parte mais externa do dente, em bocas saudáveis, podendo ser de branco a amarelado. Ele possui a maior parte dos minerais dentários e é responsável por proteger todo o dente, inclusive a dentina – que também apresenta a função de defender o dente quando o esmalte está desgastado. Juntos, eles contêm a maior parte dos minerais encontrados nos dentes. Dessa forma, quando os raios da radio os atingem, o dente fica exposto.
Os raios também podem afetar as glândulas salivares, fazendo com que haja uma diminuição na qualidade e quantidade de saliva. Isso faz com que a boca fique seca e o ph salivar alterado, levando a uma maior probabilidade do desenvolvimento da cárie.
Por depender da dose utilizada, é comum que esse efeito apareça a partir de 12 meses após o fim do tratamento.
“A partir de 45 Gy e do tamanho de campo a ser irradiado, as chances da cárie ocorrer é maior. Geralmente, elas aparecerão a partir de 12 meses, em média, depois do final da radioterapia”, segundo com o odontologista.
Sintomas da cárie de radiação
É incomum que essa cárie cause dor ou qualquer outro sintoma. Normalmente, quando o paciente a descobre, ela já está instalada e os buracos no dente já estão aparentes.
De acordo com Wolnei, “a cárie de radiação é de progressão rápida. Ou seja, uma vez instalada, devido às modificações no esmalte e dentina, o aparecimento de grandes cavidades é frequente. A progressão é assintomática e leva, muitas vezes, a fratura completa da coroa dental”.
Justamente por causa das alterações no esmalte do dente, não é possível tratar esse tipo de cárie da mesma forma que a comum é tratada. Nesse caso, como as resinas tradicionais não permanecem presas ao dente, é utilizado um cimento restaurador com boa adesão e flúor. Dessa forma, evita-se o aparecimento de cáries secundárias.
“O paciente deve ser orientado quanto à manutenção da higiene oral, dieta e hidratação. Também é preciso visitar regularmente o cirurgião dentista para acompanhamento frequente”, recomenda o odontologista.
Como prevenir a cárie de radiação?
Muito da prevenção está relacionada com os avanços obtidos no tratamento radioterápico. Isto é, conforme a radioterapia vem ganhando maior precisão e atingindo um campo menor, os efeitos colaterais também têm diminuído.
Entretanto, ainda é muito importante que o paciente siga um protocolo de saúde oral. Especialmente, devem ser realizados exames antes do início da radioterapia, como a radiografia completa.
“O paciente deve ser orientado em relação à escovação, uso de fio dental e bochechos diários com solução de fluoreto de sódio 1%. Além disso, deve-se controlar a xerostomia, a boca seca, por meio de medicamentos ou saliva artificial. A dieta deve ser adequada, principalmente com restrição de açúcares e alimentos processados industrialmente”, conta Wolnei.
Os alimentos processados e ricos em açúcar aderem com mais facilidade aos dentes, acelerando o processo de perda de minerais que já estão sofrendo com os efeitos da própria radiação.
“A dieta alimentar é um fator determinante na ocorrência de cáries, principalmente em pacientes irradiados devido às alterações da saliva. Uma dieta rica em açúcares e em alimentos processados, que aderem mais às superfícies dos dentes, produzirá mais ácidos. Dessa forma, os dentes serão desmineralizados mais rapidamente”, finaliza Wolnei Pereira.
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