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10 novos tratamentos para os cânceres do sangue

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Última atualização em 10 de março de 2023

Além de medicamentos mais eficazes, os pesquisadores também desenvolveram estratégias para usar uma menor dosagem das terapias, com a mesma segurança

O Congresso da American Society of Hematology (ASH) é a principal referência para saber quais são as novidades no tratamento para cânceres do sangue. Durante os quatro dias de evento, hematologistas e onco-hematologistas do mundo inteiro se reúnem para discutir terapias inovadoras e formas mais eficazes de usar os protocolos que já existem.

A 64ª edição do ASH aconteceu em dezembro de 2022 em Nova Orleans, nos Estados Unidos. Separamos as 10 principais novidades para as leucemias, linfomas e mieloma múltiplo!

Leucemia mieloide aguda

O Dr. Andre Dias Americo, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, fala sobre um estudo para pacientes adultos com leucemia mieloide aguda recém-diagnosticada. 

Primeiramente, foi avaliado como as pessoas reagiam quando eram tratadas com Daunorrubicina 60mg versus Daunorrubicina 90mg. Aqueles que apresentavam uma boa resposta no D+15 eram separados aleatoriamente em dois grupos: o 1º era submetido a uma segunda indução com Daunorrubicina e o 2º não recebia nenhum tratamento extra.

O Dr. Americo explica que “uma segunda indução de remissão não foi inferior a uma única indução dentro de uma margem de 7.5% estabelecida pelo grupo. Então, eles concluíram de maneira bastante adequada que duas induções de remissão entre bons respondedores não são necessárias. ”

Estudo: SAL Dauno-Double Trial

Leucemia linfoide aguda em adultos

A Drª. Juliana Pessoa, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, conta sobre um estudo com pacientes de leucemia linfoide aguda (LLA) de células B com doença residual mínima (DRM) negativa ou LLA recidivada com  BCR-ABL negativo. Foram incluídas pessoas com 30 a 70 anos.

“O objetivo primário era comprar a sobrevida global desses pacientes com DRM negativa em dois grupos: um submetido ao uso de quimioterapia de consolidação e o segundo submetido ao uso do Blinatumomabe como consolidação”, a Drª. Juliana explica.

Foram randomizados 224 para consolidação com quatro ciclos de quimioterapia e quatro ciclos de Blinatumomabe de consolidação. Os pesquisadores poderiam indicar, ou não, a realização do transplante de medula óssea alogênico e, ao final, os voluntários fizeram uma manutenção de dois anos e meio com um protocolo terapêutico chamado POMP, que inclui Mercaptopurina, Metotrexate, Vincristina e Prednisona.

“O segmento de 43 meses de estudo mostrou a consolidação com Blinatumomabe como um novo padrão de tratamento para esses pacientes com LLA BCR-ABL negativa”, a médica diz.

Estudo:  ECOG-ACRIN E1910 Randomized Phase III 

Leucemia linfoide aguda infantil

A Drª. Maria Lucia de Martino Lee, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, aborda um estudo que avaliou a intensificação da terapia para pacientes com leucemia linfoide aguda (LLA) infantil, naqueles com deleção do IKZF1, ETVC:RUNX1, Síndrome de Down e maus respondedores da prednisona.

“No estudo ombro, o que se fez foi aumentar o tempo de terapia para os pacientes com alto risco de recidiva, então em vez de dois anos de terapia foram usados três”, ela comenta.

Diante dos resultados obtidos, a Drª. Maria Lucia afirma que “dessa vez, os pesquisadores reconhecem que ser um mau respondedor à prednisona não justifica um paciente ser tratado como alto risco e eles passaram a ser tratados como risco intermediário. ”

Estudo: Dutch ALL11 Study

Leucemia mieloide crônica

O Dr. Moyses Antonio, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, descreve um estudo que avaliou se o Asciminibe, um novo inibidor de tirosina quinase, pode ser considerado como o melhor para tratamento de primeira linha para pacientes de leucemia mieloide crônica em fase crônica.

Foram incluídos pacientes com mais de 18 anos e boa performance status nesse estudo.

“O objetivo primário era a resposta molecular precoce, queda do BCR-ABL para menos de 10% em três meses e a resposta molecular maior, que é o BCR-ABL menos que 0,1 aos 12 meses”, o Dr. Antonio descreve.

O medicamento foi tomado na dosagem de 40mg duas vezes ao dia.

“92% dos pacientes tiveram resposta molecular precoce, uma taxa altíssima, e essa resposta foi se aprofundando rapidamente ao longo do tempo”, ele considera.

A análise concluiu que o medicamento foi bem tolerado, com baixa taxa de efeitos adversos grau III e IV e não foi detectado nenhum evento vascular. 

“Foi observado alta taxa de resposta molecular precoce aos três meses e também uma alta taxa de resposta molecular maior aos três meses. É uma droga que, comparada historicamente com os outros TKIs, atingiu respostas mais rápidas e mais profundas aos três meses. Por isso, deve entrar no cenário do tratamento de LMC de primeira linha em fase crônica”, o Dr. Antonio pontua.

Estudo: ALLG CML13 Ascend-CML

Leucemia linfoide crônica

A Drª. Danielle Leão, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, conta sobre um novo medicamento, chamado Zanubrutinib, que foi analisado para pacientes de leucemia linfoide crônica (LLC) recidivada ou refratária.

Esse medicamento ainda não foi aprovado no Brasil e está em via de aprovação pela Food and Drug Administration, órgão que faz o controle dos medicamentos aprovados nos Estados Unidos.

O Zanubrutinib melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão e a resposta geral em comparação com o Ibrutinibe. A melhor taxa de sobrevida livre de progressão foi observada, principalmente, nos subgrupos com deleção do 17p/tp53, além de uma resposta geral de 86.2%, com Zanubrutinib, versus 75.7%, com o Ibrutinibe.

“O Zanubrutinib demonstrou um perfil de segurança mais favorável que o Ibrutinibe, menos efeitos cardíacos sérios e menos descontinuação do tratamento”, a Drª. Danielle fala.

Estudo: ALPINE Randomized Phase 3

Linfoma não-Hodgkin de células B

A Drª. Danielle Leão também relata sobre um estudo que trouxe uma nova forma de avaliar o prognóstico dos pacientes com linfoma não-Hodgkin de células B com base na avaliação de alguns critérios que podem ser vistos em exames laboratoriais. São eles a DHL (desidrogenase láctica), anemia e beta-2-microglobulina.

“A diferença na sobrevida livre de eventos foi muito grande, não só para cada um desses fatores, mas para os fatores agrupados. É um índice prognóstico que no Brasil a gente pode começar a avaliar, é algo que está muito acessível”, a doutora comenta.

Estudo: GEL-TAMO

Linfoma de Hodgkin

A Drª. Natalia Zing, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica sobre uma análise que avaliou pacientes de linfoma de Hodgkin recém-diagnosticados em estadio II, III ou IV.

Essas pessoas foram submetidas, inicialmente, ao protocolo ABVD (Doxorrubicina, Bleomicina, Vinblastina e Dacarbazina). Os pacientes com PET Scan interino (feito no meio do tratamento) negativo, eram randomizados para realizar mais quatro ciclos de ABVD ou quatro ciclos de AVD, retirando a Bleomicina. 

Já aqueles que tinham o PET interino positivo, eram submetidos ao escalonamento, com esquema BEACOPP (Bleomicina, Etoposido, Adriamicina, Ciclofosfamida, Vincristina, Procarbazin e Prednisona) por quatro ciclos

Foram mais de mil pacientes e acompanhamento de sete anos.

De acordo com a Drª. Natalia, em relação aos pacientes que tinham PET negativo, não houve diferença entre fazer a segunda parte do tratamento com ou sem a Bleomicina.

“Já em relação aos pacientes que tinham o PET interino positivo e foram submetidos ao esquema escalonado, uma grande dúvida era em relação à segurança do BEACOPP. Um dos pontos que chamou a atenção é que realmente não houve um aumento de segunda neoplasia neste grupo, mostrando que tanto o escalonamento, quanto o descalonamento seria seguro para realizar nesses pacientes. ”

Estudo: CRUK/07/033

Mieloma múltiplo

O Dr. Breno Gusmão, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, falou sobre um estudo que analisou o tratamento para mieloma múltiplo em pacientes com doença ativa, presença de sintomas e apresentação clínica.

Uma parte das pessoas foram submetidos à terapia com Daratumumabe em combinação com o protocolo VRD (Lenalidomida, Bortezomibe e Dexametazona) e a outra apenas VRD em um cenário de pacientes elegíveis ao transplante de medula óssea.

“Os pacientes que receberam a combinação quádrupla de Daratumumabe com VRD foram melhores em sobrevida livre de progressão e conseguiram maior taxa de DRM negativa depois da consolidação”, o Dr. Gusmão fala.

Porém, ele ressalta que essa combinação é benéfica para pacientes que possuíam até uma mutação de alto risco. Entretanto, se a pessoa apresenta duas ou mais mutações de alto risco, a taxa não é tão boa e a curva de sobrevida livre de progressão é quase comparável ao grupo que não tomou o Daratumumabe.

Estudo: Final Analysis of Griffin Among Clinically Relevant Subgroups

Transplante de medula óssea

O Dr. Eurides da Rosa, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, traz um estudo sobre uma nova estratégia de manejo da Síndrome de Liberação de Citocinas no transplante de medula óssea (TMO) haploidêntico. 

O comum é administrar a ciclofosfamida e depois de cinco dias (D+5), oferecer os inibidores e o micofenolato mofetil (MMF). Neste estudo, os pesquisadores administraram os inibidores no D-1, o MMF no D0, e a ciclofosfamida no D+3 e D+5.

“Foi observado uma incidência cumulativa menor e estatisticamente significativa de síndrome de liberação de citocina e uma menor taxa de tempo de hospitalização para esses pacientes”, conta o médico.

Estudo: 4724r

CAR-T CELL

O Dr. Fabio Kerbauy, hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, fala sobre o uso do CAR-T Cell no tratamento do linfoma difuso de grandes células B em tratamento de segunda linha, ou seja, doença recidivada em menos de um ano ou refratária.

Neste estudo, os pacientes foram randomizados em grupos que realizaram dois tratamentos diferentes. O primeiro grupo foi submetido ao tratamento com o Liso-cel, uma terapia CAR-T Cell que já foi aprovada nos EUA, ou realizaram a terapia padrão, que incluía quimio-imunoterapia seguido de TMO autólogo.

52% dos pacientes que foram submetidos ao Liso-cel tiveram uma sobrevida livre de doença, em comparação com 20% no grupo que recebeu TMO.

“A taxa de resposta completa foi melhor nos pacientes que receberam o Liso-cel. Porém a sobrevida global ainda não foi alcançada e provavelmente nós vamos precisar de mais tempo de acompanhamento. As taxas de eventos adversos são semelhantes a outros CAR-T, com citopenias prolongadas, mas a taxa de mortes foi bastante baixa, mostrando a segurança”, o Dr. Kerbauy afirma.

Estudo: Primary Analysis of the Randomized, Phase 3 Transform Study

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